sexta-feira, 11 de julho de 2008

MEMÓRIA DE REUNIÂO SOBRE IMPLANTAÇÃO DE ENSINO MÉDIO INTEGRADO MUNDURUKU



Local: Belém - Secretaria de Educação do Estado do Pará
Período: 23 de maio (das 10h as 17h30) e 24 de maio de 2007 (das 8h as 11h30)
Local: Itaituba – Salão de Reuniões da FUNAI
Período: 25 a 27 de maio
Assunto: Encaminhamentos para implantação de Projeto de Ensino Médio Integrado destinado ao Povo Munduruku no ano de 2007.
Participantes em Belém: Judite Gonçalves – Consultora da Secretaria de Educação Básica/MEC; André Alvarez, Coordenador de Educação Indígena da SEDUC; Regina Julião, Risoleta Julião, Edilene Costa (durante a manhã do primeiro dia), Valmiro e Nixon (representantes da Coordenação de Ensino Médio) Rita e Ivan, técnicos da Coordenação de Educação Escolar Indígena da SEDUC; André R.F. Ramos, representando a Coordenação Geral de Educação da FUNAI; Juscelino Bessa, técnico da AER FUNAI Belém.
I - Apresentação
A reunião teve início às 10 horas na sala da Coordenação de Educação Indígena da SEDUC-PA, e os trabalhos foram iniciados por André Ramos, que após ter apresentado a consultora Judite Gonçalves e aguardado a auto-apresentação dos demais presentes, fez um breve relato dos trabalhos realizados no segundo semestre de 2006 e expôs os motivos que levaram a convocação da reunião, entre estes a necessidade de retomar o processo de discussão e os encaminhamentos quanto à implantação do ensino médio integrado munduruku, que se encontra atrasado em parte por decorrência das mudanças de governo, ressaltando que a comunidade indígena continua cobrando providências sobre as questões que foram deliberadas. O Coordenador de educação Indígena da SEDUC André Alvarez ressaltou o interesse da Secretaria de Educação em trabalhar em parceria com a Funai nas ações de educação escolar indígena no estado do Pará e as mudanças de diretrizes do Governo do estado em relação à questão indígena. Foi sugerida uma pauta para a reunião com os seguintes pontos: Encaminhamentos do Projeto; Plano de Implantação; Comissão para levantamento da situação (demanda do ensino médio no Pará). Judite lembrou que o diagnóstico que o MEC havia realizado em 2005 sobre o ensino médio indígena em várias regiões do país, infelizmente não oferece dados sobre a situação no estado do Pará. Para desdobramento da pauta Judite sugeriu que se discutisse: A estrutura sistêmica para implantar o ensino médio integrado indígena analisando os itens Recursos Humanos, Instalações Físicas, Recursos Financeiros e Fontes de Financiamento.
II - Informes e Debates principais
O primeiro rol de debates se concentrou na questão do caráter do ensino médio integrado e da especificidade da educação escolar indígena. Judite chamou atenção sobre a necessidade de ser ter cuidados quando se fala na questão da especificidade e de se propiciar a presença da cultura indígena na escola de não se infantilizar o conhecimento, por que muitas escolas acabam publicando conhecimentos infantilizados, pelo fato de trabalhar exclusivamente com crianças e alunos muito jovens, que se limitam a recolher partes de conhecimentos tradicionais junto aos adultos mais maduros e velhos, e trazem de volta versões ou fragmentos que esvaziados não refletem a riqueza da produção do conhecimento e das tecnologias indígenas. Apresentou como proposta que ao final de cada etapa do curso seja elaborados cadernos (de baixo custo) com os temas trabalhados, e as pesquisas em andamento, como forma de oferecer condições para o aluno acompanhar melhor o curso e socializar os conhecimentos junto a comunidade.
Na continuidade dos trabalhos as principais discussões se concentraram em torno dos seguintes pontos:
Encaminhamentos junto ao Conselho
Segundo a Profa. Edilene Costa o projeto após as reuniões de 2006 foi preparado em uma ultima versão conforme responsabilidade técnica da SEDUC, e encaminhado oficialmente (mês de fevereiro de 2007), para o Conselho de Educação do Estado. Conforme Alvarez ocorreram mudanças na composição do Conselho, que atualmente tem um perfil mais comprometido com as questões de educação conforme as necessidades da sociedade, contando com um representante da educação no campo, e que fez contatos com o conselheiro Wiliam Gaia, que é uma pessoa identificada com as questões das minorias sociais e da educação escolar indígena.
Juscelino Bessa chamou a atenção sobre as discussões que ocorreram no estado sobre a possibilidade de juntar a problemática da educação indígena com a educação no campo, que felizmente foi superada, concluindo-se que são realidades bastante diferentes.
Foi reafirmado que a educação escolar indígena terá sua especificidade respeitada, e que inclusive o projeto de ensino médio integrado munduruku que havia sido dividido em três conforme orientação da reunião realizada em dezembro, para encaminhamento em processos separados de acordo com a habilitação profissional foi encaminhado juntando as três propostas em um único volume.
III - Os principais pontos definidos foram:
As referências das discussões foram originadas das reuniões anteriores e da necessidade de estabelecer uma meta inicial, denominada “meta zero” onde pudesse ser definidas as Responsabilidades das Instituições; Elaboração de Projetos de financiamento; A questão do pagamento de pró-labore para os professores especialistas; a Capacitação dos formadores; definição da coordenação e da participação indígena; e o início dos trabalhos do curso, com a realização da primeira etapa presencial.
Após várias discussões ficou acordado que a 1a. Etapa do Ensino Médio Integrado Munduruku será realizada no mês de outubro de 2007.
A 1a. Etapa terá um caráter básico de formação para pesquisa, e tem como objetivos oferecer elementos que estimulem e auxiliem os alunos a realizar as primeiras investigações sobre o contexto da realidade das comunidades indígenas articuladas as questões colocadas pelas áreas de formação (Magistério Indígena, Técnico de Enfermagem, Agrofloresta). Este levantamento deverá propiciar condições para a internalização do projeto político pedagógico e do eixo estruturante do Ensino Médio Integrado Munduruku, bem como, o desenvolvimento dos componentes curriculares. O cursista desta forma trará para dentro do curso suas experiências, e as possibilidades de investigação a partir dos interesses e da visão de mundo indígena. Foi compreendido também, que contribuirá para o amadurecimento dos encaminhamentos e das soluções no sentido de garantir a execução dos princípios presentes no projeto.
Reelaboração do Plano de Implantação, com a participação da Coordenação de Ensino Médio e a Coordenação de Educação Escolar Indígena da SEDUC.
Levantamento do quadro de Formadores.
Necessidade de realizar uma Reunião de trabalho com a equipe básica de formadores, com no mínimo um representante de cada área de formação. Nesta reunião deverão ser escolhidos os coordenadores: a) Coordenação Geral; b) Coordenação técnica por área; c) Coordenação administrativa. Período da reunião: Segunda quinzena do mês de agosto.
Contatos com os parceiros: a) Na área de saúde: Escola do SUS de Manaus, DESAI/FUNASA, Fundação Esperança, CERES, Escola de Ensino Médio do Estado do Pará (Técnico de Enfermagem) b) Na área de Agrofloresta: Coordenação de Ensino Profissional/MEC, CEFET-Manaus e Belém; Escola de Produção e Trabalho de Itaituba. Os contatos serão formalizados através da CGE/FUNAI e SEDUC-PA.
Elaborar um resumo do Projeto de Ensino Médio Integrado Munduruku para ser utilizado nos contatos com possíveis financiadores. Responsável: André R.F. Ramos.
Necessidade de Formalização da Comissão de Trabalho. Deverá ser providenciada uma minuta de carta a ser assinada pelo Secretário de Educação do Estado a ser encaminhada para as Instituições: FUNAI, CGEE/MEC, Diretoria de Políticas de Ensino Médio/SEB/MEC, SEB, Associação Pusuru, Associação Pahyhy´p.
Planejar a formação do quadro dos professores formadores, onde se inclui equipe de especialistas e equipe da SEDUC para o ensino médio integrado munduruku. A proposta poderá compor o Plano de Implantação.
Planejar a reunião de trabalho “marco zero” a ser realizada na segunda quinzena de agosto. Responsáveis: CGE/FUNAI e SEDUC.
Quanto a implantação de bibliotecas e laboratórios, ficou definido que será elaborado projeto específico. Á princípio deverão ser adquiridos a bibliografia básica das áreas de formação e literatura a ser disponibilizada para os alunos. A proposta a ser desenvolvida tem como sugestão um barco-educação que comporte uma biblioteca, um laboratório básico e recursos áudio visuais que circule pelas aldeias, atendendo alunos e as comunidades. Há necessidade de um projeto para se conseguir financiamentos.
Ao final da reunião foi elaborado um Sumário com os itens que devem constar do Plano de Implantação do Ensino Médio Integrado Munduruku.
IV – Reunião com representantes Munduruku
Após a reunião em Belém, os técnicos André R.F. Ramos-FUNAI e Judite Gonçalves (consultora do MEC) se deslocaram até a cidade de Itaituba onde participaram de reunião com cerca de 30 representantes munduruku( professores, alunos e lideranças) e a FUNAI Regional, nos dias 25,26 e 27 de maio.
4.1 A reunião com os representantes indígenas será objeto de um relatório específico, a pauta principal discutida foi: Informes da Comissão e do andamento do projeto; A modalidade Ensino Médio Integrado; Projeto de Ensino Médio Integrado Munduruku – áreas de formação; Plano de Implantação.
4.2 Os munduruku discutiram em grupos e apresentaram deliberações quanto: a) Quem são os alunos do Médio Integrado Munduruku – perfil/ O que se espera do aluno ao final do curso; b) Critérios de Participação; c) Quem são professores formadores – perfil; Como se será a gestão e participação da comunidade.
4.3 Entre as deliberações foi definida a questão do acompanhamento indígena no curso, que será constituído pelos seguintes nomes:
Área de Agrofloresta – Deusivaldo Saw
Área de Enfermagem – Adonias Kabá
Área de Magistério – Misael Kabá e Zenildo Saw
Serviços de Administração – Zenildo Saw (e mais um outro nome a ser indicado)
Coordenação – Emiliano Kirixi (e mais um nome a ser indicado)
V - Proposta de Agenda para Encaminhamentos
A agenda foi discutida nas duas oportunidades de trabalho, na reunião em Belém com os técnicos da SEDUC e na reunião com representantes munduruku e a FUNAI Regional.
AGENDA PARA IMPLANTAÇÃO
DO ENSINO MEDIO INTEGRADO MUNDURUKU
MÊS
ATIVIDADES
RESPONSÁVEL
Maio
Contatos com Conselho – Wiliam Gaia
SEDUC
Junho
Formalização da Comissão de Trabalho
SEDUC
Junho
Levantamento de Quadro de Professores
Especialistas
SEDUC-FUNAI-COMISSÃO
05/06/07
Fazer Resumo do Projeto
André/Seduc
20 A 23/06/07
Discussão do Projeto na Assembléia Munduruku
Comissão
Junho
REFAZER PLANO DE IMPLANTAÇÃO – Incluir Capacitação de Quadro de Professores
FUNAI/SEDUC
Junho/Julho
Contatos com a SEMEC para reservar Salas de Aulas para as Etapas Presenciais
SEDUC
Julho
Estudo e Proposta de Construção de Alojamentos
Comissão/Funai
Julho/Agosto
Projetos de Financiamento – 1ª Versão
Junho a Setembro
Contatos com Parcerias – CEFET – SUS – Escola de Enfermagem; Fundação Esperança e SEDUC, PDPI, Escola de Produção de Itaituba.
Comissão Indigena-SEDUC-FUNAI
Agosto
Reunião com Comissão de Trabalho e Especialistas para Planejamento da Etapa e Internalização do Projeto – 1ª. Capacitação.
SEDUC-MEC – FUNAI – Comissão
OUTUBRO
Inicio da 1ª. Etapa do Curso
Brasília, 29 de junho de 2007.
André Raimundo Ferreira Ramos/Funai
Judite Gonçalves de Albuquerque/consultora

IBAOREBU - ENSINO MÉDIO INTEGRADO MUNDURUKU



Relatório de Viagem
II módulo: acompanhamento das pesquisas
1 Observações sobre os deslocamentos:
1.1 Brasília - Aldeia Sai Cinza
A viagem para participação no projeto “Ibaorebu - Ensino Médio Integrado Munduruku” teve seu início no dia 10 de março de 2008 com o deslocamento no vôo da TAM saindo de Brasília às 23h00min, chegando a Belém às 03h40min. Após um breve pernoite no aeroporto, embarquei em vôo da META às 06h00min seguindo para Itaituba onde cheguei às 10h30min onde fui recebido pelo Sr. Giliard funcionário da Administração Executiva Regional da FUNAI, AER- Itaituba que me levou para a sede da FUNAI onde conversei um pouco com o Sr. Julien administrador executivo do escritório local.
Após algumas providências enquanto aguardava a caminhonete para deslocamento para Jacareacanga, embarcamos em veículo fretado pela prefeitura de Jacareacanga e fomos para a sede da empresa de transporte Jacaré, eu e mais uns dez índios entre crianças e adultos, onde aguardamos por três horas colocar a lona da carga, o conserto de pneus e o abastecimento para a viagem. Finalmente saímos com chuva e uma previsão de chegarmos a Jacareacanga às 2 ou 3 horas da madrugada do dia seguinte. A estrada estava razoável segundo informações do motorista. “Muita lama sem atoleiros só com algumas subidas em estado precário”.
O que mais impressionou é o estado das caminhonetes em que viajamos, que aparentemente têm sua mecânica em boas condições, mas deixou dúvidas. O excesso de carga em um veículo D-20 que teve seu último exemplar fabricado em 1995, salvo engano, tendo, portanto, por volta de pelo menos 12 a 13 anos de uso em condições amazônicas, preocupou mais ainda quando soube que carregam em média 2.000 kg, entre carga e passageiros, quando são estruturadas para 800 kg pela montadora. Isso é feito praticamente apenas com um reforço nas molas, que são originalmente 5 e passam para até 12 e com o reforço do motor e câmbio. O restante da estrutura sequer é alterada ou reforçada.
Após muita chuva fina, mas constante, e diversos momentos de tensão, chegamos, já às 01h20min da madrugada, a um local onde a estrada estava interrompida com um caminhão atravessado tendo que pernoitar no veículo mesmo. Havíamos percorrido 230 km de trans-amazônica e me pareceu interessante e providencial a parada obrigatória visto o desgaste do motorista único e nessa altura, já movido a café, muita coragem e irresponsabilidade. Cheguei a comentar carinhosamente que ele daria um bom piloto de rali.
Os veículos são de propriedade particular de cada motorista e sua manutenção feita pelos mesmos sem aparentes preocupações ou compromissos da empresa agenciadora ou de quem aloca os serviços para os Munduruku e seus funcionários, no caso FUNAI, FUNASA e Prefeitura de Jacareacanga.
Continuamos no dia seguinte após a liberação da estrada por volta das 06h00min, chegando a Jacareacanga às 10h30min sem maiores incidentes. Para minha surpresa apenas a lona que cobria a carga estava furada e minha bagagem toda bem molhada.
Pelo que pude apurar em diversas conversas, tudo muito normal por aqueles lados de um Brasil abandonado e liberado oficialmente para o transporte precário de passageiros, principalmente durante a época das chuvas. Resumindo, a viagem transcorreu dentro das possibilidades, com certo, mas desconhecido e pouco observado, risco real de vida.
No momento, devido aos custos elevados de transportes alternativos, a dependência por esse meio é total, sendo que as pessoas o utilizam pela falta de opção. É, portanto, ”recomendada” maior atenção no tratamento dispensado ao transporte de “indígenas” e “servidores”. Que seja mais bem pensado na região, quem sabe com veículos da própria associação, que poderia de forma autônoma dar maior “dignidade” a seus parentes e às pessoas que estão a serviço dos diversos órgãos e mesmo em trabalhos como colaboradores eventuais a serviço da causa indígena.
Nesse sentido recomenda-se ao projeto “Ibaorebu” que procure se estruturar de forma mais autônoma com condições de oferecer melhores condições de trabalho sem riscos desnecessários de vida aos professores e indigenistas participantes permanentes e colaboradores eventuais para que este não seja mais um risco, visto que outros, relativos à periculosidade e insalubridade, não podemos evitar. Pode parecer certo preciosismo e cuidado excessivo, pois sei da precariedade geral do atendimento e atenção a populações indígenas principalmente na Amazônia, mas também no Brasil em geral. Não posso, porém, fingir que não vi e senti, e quero deixar aqui meu depoimento, pois acredito ser importante procurar essa melhoria para que o estresse enfrentado já no início dos trabalhos não comprometa o desempenho durante os mesmos.
Chegando a Jacareacanga, levei meu material para a FUNASA onde procurei apoio e consegui fazer contato com o André, coordenador dos trabalhos do projeto, e após fazer alguma compra de provisões e acertar o deslocamento para aldeia Sai Cinza, aguardei até as quatro horas uma carona em um barco da FUNASA. O barco estava levando um técnico especializado em malária para seus trabalhos de rotina na aldeia. E após problemas resolvidos com a troca do motor. Chegamos a Sai Cinza, em 01h00min de subida, por volta das 18h:30min.
1.2 Aldeia Sai Cinza – Aldeia Katõ
Os trabalhos na aldeia Sai Cinza foram realizados até o dia 17 de março no dia 18 já com o material preparado para levar para aldeia Kato, ficamos aguardando o deslocamento para a aldeia Kato.
T
Barco superlotado: pessoas; combustível; e provisões.
Equipe que foi para Missão Cururu
ivemos alguns pequenos problemas, pois o barco que nos levaria a aldeia, precisou ser utilizado pelo capitão da aldeia para levar um motor da marcenaria dos missionários para Jacareacanga e o outro barco ainda se encontrava na cidade aguardando parte das provisões que se destinavam aos trabalhos. Após infinitos atrasos conseguimos, depois de trocas de barcos na hora do embarque para redimensionamento de cargas, saímos de Sai Cinza às 14h00min com mais cinco Munduruku que precisaram de uma carona para aldeia Jardim Caburuá que fica no caminho. O motor utilizado é um 15 Hp, o que para um barco grande seria inadequado, considerando a relação peso velocidade, e ai a viagem foi lenta com chegada à aldeia por volta das 19h30min. A viagem lenta permitiu uma melhor observação da vegetação local, das matas de igapó, e mesmo após a saída de alguns passageiros na aldeia Jardim Caburuá o barco continuou lento principalmente no trecho final quando escureceu e utilizamos apenas duas lanternas para indicar o caminho.
Aqui mais uma vez recomendamos maior atenção nos projetos de alocação de recursos para melhoria da infra-estrutura operacional autônoma para o projeto. É importante que se tenha de propriedade do projeto Ibaorebu, barcos, motores e demais equipamentos necessários em quantidade e dimensão adequadas para o bom desenvolvimento dos trabalhos em tempo e segurança, sem que sacrifiquem os servidores e alunos em deslocamentos normalmente longos e sujeitos as condições climáticas desfavoráveis.
1.3 Aldeia Katõ – Brasília
Aqui pela primeira vez tivemos um dimensionamento adequado do barco que além de ser prioritário para a viagem do curso e de estar pronto para viajar desde os primeiros momentos da manhã, tinha uma dimensão adequada, sendo um motor 40 Hp e, além disso, o barco estava vazio, pois ia apenas pegar alguma provisão ainda necessária para a alimentação no curso. Sai da aldeia na sexta-feira da paixão de cristo. Nesse dia era feriado em Jacareacanga e ai não tivemos o peso extra de caronas. Porém também tudo ficou dificultado. Não havia nenhuma caminhonete para Itaituba. Só teria no dia seguinte. O hotel mais barato estava cheio e tive que ir para o mais caro. Depois mudei para outro que descobri que era mais barato ainda. Embora bem ventilado pela grande janela, tive que dormir em minha rede com o mosquiteiro o que foi muito bom. Marquei para o dia seguinte uma vaga na cabine da caminhonete. No Sábado fui para Itaituba, mas a saída de Jacareacanga só aconteceu às 12h00min, após conseguirem mais alguns passageiros. Fizemos uma viagem boa principalmente por que o motorista estava realizando sua primeira viagem e assim tinha que andar devagar e com mais atenção. Chegamos a Itaituba às 21h00min.
No domingo permaneci em Itaituba, pois o vôo para Belém só seria realizado na segunda-feira pela manhã chegando a 1 hora da tarde. Embarcamos para Brasília às 17 horas tudo transcorrendo conforme o planejado.
2. Acompanhamento das pesquisas
2. 1 Trabalhos na Aldeia Sai Cinza
Na quinta-feira, dia 13/03/2008, já na aldeia Sai Cinza, procurei me interar com a equipe do que estava acontecendo e aproveitei para conversar e ler sobre documentos complementares do Curso de Ensino Médio Integrado Munduruku. Ainda faltavam alguns participantes para início dos trabalhos sendo necessário aguarda-los para no dia seguinte iniciarmos com todos.
Como não havia trabalho definido para o dia, resolvi, por conta própria, continuar uma pesquisa que havia iniciado anteriormente sobre os restos jogados em “lixeiras” e por toda a aldeia de forma geral. Esses restos nos dão informação do que se é adquirido de fora das aldeias relativo a coisas industrializadas. Mostram claramente os pontos de dependência externa. Também nos possibilitam verificar as mudanças e induções de hábitos alimentares e consumistas, e até mesmo questões relativas à falta de saúde, vícios e existência de determinadas doenças.
Ao mesmo tempo em que andava pela aldeia em busca dos vestígios de nossa sociedade, verifiquei também as diversas plantas frutíferas e medicinais caseiras e procurei observar as que tinham problemas de falta de saúde e também as que não tinham esses problemas, embora estivessem plantadas uma ao lado das outras. Também foi possível verificar outros problemas ambientais relativos principalmente à erosão.
Após uma rápida investigação e registro, me dirigi ao armazém existente na aldeia para verificar o que é vendido no local. Mais uma vez procurei registrar tudo que lá estava exposto para comercialização.
Praticamente tudo que encontrei é insustentável. Além dos itens acima visualizados, encontrei velas, pilhas, linha de pesca, foguetes, e material para limpeza em geral. O único item alimentar interessante foi a milharina.
Cabe sobre esse tema, muitas considerações, relativas aos binômios saúde/doença e sustentabilidade/dependência, todos fatores de grande corrosão da autonomia e autodeterminação, mas como estamos tratando de educação prefiro falar melhor em outra ocasião, ficando o material recolhido apenas para uma reflexão sobre o que devemos levar como alimentos para o curso, uma vez que estamos trabalhando educação.
À noite foi realizada uma reunião com a equipe para acertos finais da metodologia de trabalho que seria seguida e da programação a ser cumprida pelos professores e monitores. Foi também informado a presença do pesquisador Francês Pierre Pica que estava de passagem e poderia apresentar seus trabalhos para quem quisesse conhecer.
Na sexta-feira, dia 14/03/2008, iniciamos os trabalhos na aldeia Sai Cinza com três turmas sendo que na que fiquei, éramos eu e o Prof. Vitor Hugo como professores/assessores e o Prof. João Kabá, o Deusivaldo e o Agente de Saúde Haroldo como monitores.
Pela manhã foram discutidos os procedimentos e encaminhamentos para o acompanhamento das pesquisas: metodologia, estratégias e operacional. Assim, em nossa turma, os monitores, após uma breve apresentação assumiram os trabalhos.
Conforme fala do João Kabá “para estudar lá fora é difícil, eu sou resultado da escola de lá de fora”. E o Haroldo, no seu tempo, disse completando “aqui tem uma resposta do porque que eu vou estudar isso ou aquilo”. O Deusivaldo falou sobre seus cursos e estudos e assim todos os monitores começaram a interagir com a turma. Ainda pela manhã foi aberto um espaço para colocação de problemas encontrados de forma geral. Foi falado sobre a distribuição dos rádios (gravadores), pois só foram distribuídos muito tempo depois de terem sido repassados aos chefes de posto. Além disso, foram distribuídos sem a orientação para o seu uso.
Aqui merecem ser levantadas algumas considerações visto ser equipamento muito importante para auxiliar no desenvolvimento das pesquisas:
Os gravadores são patrimônio da FUNAI, o que restringe o seu uso, visto que o chefe de posto é o responsável por sua guarda e acaba por cercear, mesmo que involuntariamente, o uso mais livre do equipamento;
O fato de ser um gravador digital e de todos saberem que pode passar direto para o computador passa a exigir, de certa forma a presença do mesmo, passando a depender de tecnologia de difícil acesso na terra indígena. Isso pode e deve ser contornado com a orientação para a transcrição imediata das gravações efetuadas liberando novo espaço;
Também deve ser orientado sobre a própria gravação sendo importante que se faça uma experiência antes para que fique claro que não é só ir gravando, pois depois teremos que transcrever. Muitas entrevistas ficam no áudio por falta de tempo para as transcrições que levam muito tempo, é importante então saber o que gravar e quanto tempo usar;
São em número insuficiente para os vários grupos, havendo, portanto um revezamento, sempre complicado.
À tarde foi apresentado o cronograma para esse ano do curso e depois iniciado o trabalho de acompanhamento, retornando aos passos já realizados. Só não ficou dito sobre a etapa que será realizada antes da primeira etapa presencial, quando será realizada uma reunião geral dos professores e monitores para planejamento e definição do módulo presencial que ocorrerá provavelmente em junho / julho. Em resumo, me preocupei em observar como estava sendo desenvolvido o processo de protagonismo dos monitores na condução dos trabalhos dentro da sala de aula e da aceitação e interação dos mesmos com os alunos, do que propriamente com o conteúdo do que estavam discutindo de forma apaixonada e firme em sua própria língua. Mas no relatório do Prof. Vitor Hugo o conteúdo discutido deve está descrito, pois sempre um dos monitores estava traduzindo para ele o que estava acontecendo.
À noite foi realizada uma segunda reunião da equipe, agora juntamente com os monitores, para estabelecer os passos para o dia seguinte. Aqui ficaram definidos os principais pontos a serem verificados pelas equipes, sendo: revisão dos passos; sobre a metodologia e sua eficácia; sobre os recursos utilizados; sobre as descobertas; sobre as dificuldades encontradas e enfrentadas. Neste ponto completei dizendo que as dificuldades poderiam ser de ordem de condução/ compreensão, operacionais, metodológicas e mesmo de acesso a informações através de entrevistas de pessoas e pesquisa bibliográfica.
Por último ficou definido ser importante, que depois de percorridos esses passos fosse feita uma definição das estratégias de continuidade das pesquisas e assim uma apresentação geral do andamento dos trabalhos.
Coloquei ainda para reflexão os seguintes comentários:
Sobre a comunicação e acesso a informação e suas diversas dimensões, CD ou fita cassete ou jornal, E-mail para assessorar os monitores e representantes dos grupos de pesquisa e assim o uso do GESAC, Ponto de cultura e MCT para apresentação de projetos;
Sobre o Gerenciamento Externo e Interno do Projeto, que acho que deve se chamar programa. Sendo informado pelo André que ele faz a coordenação de articulação e a Professora Judite a coordenação pedagógica. Falamos sobre a necessidade de uma coordenação de apoio em Itaituba (que poderia ser o setor de educação a ser criado). Ainda e principalmente o gerenciamento pela comissão indígena que deve ser criada oficialmente no meu entender, pois é quem poderá além de auxiliar e estar à frente do processo, fazer as devidas cobranças quando necessário.
Sobre o intercâmbio entre alunos e monitores com outras experiências de outros povos. Quando foi falado da possibilidade de viagem ao Parque Indígena do Xingu para conhecer e participar de um curso sobre criação de tracajá.
Sobre a sustentabilidade da equipe: Assessoria especializada, quadro de professores permanentes da equipe de apoio e equipe operacional de campo. Aqui se falou sobre os recursos existentes na Secretaria de Educação do estado do Pará, destinados ao projeto Munduruku, sobre a possibilidade da mesma contratar monitores e professores permanentemente criando um quadro para atender a essa necessidade, sobre o apoio da FUNAI e outros que podem ser conseguidos principalmente, mas não só, na parte operacional. Mas também ficou dita a importância da autonomia indígena como protagonista do processo, sendo importante essa construção para que lhes seja dada a oportunidade de condução de suas próprias vidas.
Após a reunião foi realizada uma apresentação do Pierre Pica sobre a percepção de mundo dos Munduruku. Sobre a simetria da vida, sobre os grupos de contar expressos na matemática, sobre o sol do dia e o sol da noite. A existência da compreensão sobre as fases da lua, sobre onde o sol nasce, sobre onde a lua se posiciona no céu conforme a época do ano, a existência de relação entre o céu e a agricultura.
Ficou-me parcialmente claro, ou talvez perto de uma definição, a existência de um mundo de compreensão onde a construção do mesmo é feita com certa liberdade de aproximação ao invés da rigidez da certeza e verdade absoluta preconizada pelo cartesianismo ocidental. Aqui acho importante recomendar que seja procurado um maior intercâmbio entre essa pesquisa e o processo de educação preconizado pelo projeto onde a pesquisa deve orientar os temas a serem desenvolvidos para exercício dos conhecimentos e práticas científicas do aprendizado.
Olhando melhor essa pesquisa, ainda que superficialmente, pela sua riqueza e por representar fragmentos da raiz cultural Munduruku, deve-se cuidar e respeitar esses conhecimentos e aproveita-los agora no ensino médio integrado e futuramente em um outro processo, que talvez os próprios formandos do ensino médio, que estamos oportunizando, possam construir no sentido de uma escola verdadeiramente indígena que poderá seguir passos em um caminho paralelo ao ensino brasileiro para indígenas.
No sábado, dia 15/03/2008, após o lanche matinal, tivemos uma grata surpresa quando nos deparamos com uma mobilização geral preconizada pela escola brasileira de ensino fundamental, que trabalha principalmente com os jovens e crianças, a limpeza da aldeia. Falta ainda uma melhor orientação para o destino final de cada componente retirado e encontrado, sendo que tudo vai para um mesmo destino, e como se corta capim, também se cortam galhos de árvores o que precisa ser equacionado. Mas é preciso elogiar e auxiliar tal iniciativa, procurando dar seguimento e rumo para a tarefa ficar bem consolidada culturalmente.
Seguiu-se um momento tenso de conflito inter-pessoal na equipe visto a postura inter-étnica inadequada estabelecida por um dos participantes brasileiros, o que deve ser tratado posteriormente e devidamente adequado. Após uma pequena conversação entre pessoas da equipe, sem maiores problemas, tudo foi parcialmente encaminhado, mas há necessidade de discussão posterior sobre fatos da mesma natureza que possam vir a ocorrer e mesmo sobre a escolha e orientação de profissionais para o trabalho em campo.
Os trabalhos se iniciaram com os monitores assumindo a turma falando sobre o curso. Deusivaldo continuou falando sobre os cursos técnicos, sobre a educação nas aldeias, sobre as famílias e sobre a importância da prática. João Kabá deu seguimento falando sobre a teoria na escola e a prática no campo, sobre a importância da mesa dos saberes, sobre as informações coletadas sobre os documentos por fazer. Depois o Haroldo entrou na conversa, procurando falar bastante sobre a pesquisa, o que pesquisar, como pesquisar e para que pesquisar sendo falado, para nós “pariwat”, que para os Munduruku esses passos fazem parte de uma só compreensão. “Na língua indígena se fala diferente”. Falou ainda como preparar o material e como se expressar sobre os conhecimentos no relatório final. Gercivaldo levantou dizendo que tem muitas dúvidas e dificuldades. Ai o Haroldo continuou dizendo que é para isso que estamos aqui. Exemplo: Quando se fala no campo, não é só no campo de futebol , mas ir a procura de informação de uma pesquisa. Borracha, seringa, vão atrás dos velhos. Se o rádio não está disponível, pega o caderno e escreve. Mas é difícil as pessoas entenderem na língua do “pariwat”. Tem que tirar suas dúvidas pois senão vai ficar para sempre. Este curso está nascendo agora. Um bebê. Quando terminar o curso ai vai mostrar na prática. Os alunos tem que participar, colocar na prática.
Aqui fiz uma observação silenciosa registrando como é importante e adequado o espaço da educação, criativa e dentro da realidade cotidiana e histórica, para o estabelecimento e afirmação do protagonismo indígena. É muito interessante, sobretudo vê-los conduzindo a atividade com segurança e propriedade. Cabe aqui ainda uma reflexão sobre as pessoas, “educadores e não técnicos simplesmente”, a serem envolvidas e sua capacitação pedagógica em serviço, se necessário, para podermos realmente permitir, onde couber a oportunidade para o protagonismo indígena aflorar e assim construirmos juntos um processo de autonomia indígena real tanto da gestão quanto do saber. Dessa forma é importante que haja sempre o acompanhamento, avaliação e instrução pedagógica durante as atividades.
Desse momento em diante, ainda pela manhã, foi feita uma visita às outras salas por mim e pelo monitor João Kabá que resolveu modificar a arrumação da sala fazendo-se um grande círculo, como uma das outras. Depois se falou sobre o que significam dados e foi explicado que os dados significam informações e elas precisam ser organizadas. Ai o João Kabá fez um gráfico no quadro-verde explicando sobre os tracajás e sua população através dos anos. Foi quando fiz uma pequena interferência dizendo que um gráfico é uma forma de registro, uma linguagem e que precisava ter as unidades em cada eixo para ser compreendido (lido).
Ainda pela manhã foram separados os grupos para discussão interna dos conhecimentos sobre os passos e depois para discussão sobre cada trabalho.
À
O monitor João Kabá explica para o professor Vitor
Hugo o que está sendo dito no trabalho de pesquisatarde foi feita uma rápida avaliação da forma como os monitores passaram a atuar. O resultado foi a compreensão unânime de que assim eles estavam compreendendo muito mais e assim podendo tirar as dúvidas. Era visível o crescimento da participação de um dia para o outro. Os professores se nivelam com os alunos.
O Haroldo falou, “No futuro índio mesmo vai coordenar os professores vão sair, esse projeto de grande porte vai ser feito pelo próprio índio”. Isso é autonomia e autodeterminação.
Nesse processo os monitores deixaram claro que todos podem e devem falar se acham que alguma coisa pode melhorar. Precisa falar menos técnico de forma mais simples para compreender melhor. Depois foi aberta a palavra para alunos e alunas que expuseram suas opiniões. Uma delas foi: “é mais fácil monitor indígena do que branco”.
Mas ficou claro aqui também que não só o protagonismo indígena, e a participação oportunizada aos alunos deram um novo tom. Também o tempo livre para seguirem, e quando chegavam à frente e ainda inseguros, voltarem e arrumarem tudo para todos. “ Nós monitores temos que ter muito cuidado na hora de sermos ansiosos”. E também o quanto é interessante quando um fala e o outro passa a compreender melhor, pois o que o outro falou é realidade vivenciada no mesmo imaginário de parte dos que estão ouvindo.
Os monitores continuaram um pouco as discussões pedindo a cada grupo que falasse sobre a metodologia, sobre os recursos utilizados, sobre as descobertas e sobre as dificuldades encontradas e solicitado que cada um fizesse um relatório para apresentar estas questões juntamente com uma estratégia para continuidade das pesquisas.
À noite, mais uma reunião da equipe de trabalho para avaliação da metodologia empregada e dúvidas. Os monitores presentes falaram um pouco a respeito das apresentações explicando como foi a metodologia desenvolvida.
No Domingo, dia 16/03/2008, pela manhã foi dada a continuidade a apresentação do andamento das pesquisas pelos diversos grupos. Ao final da manhã foram realizadas conversas sobre a responsabilidade e cobrados os relatórios que haviam sido solicitados anteriormente.
A
Grupo Poy - Mudança da Culturas apresentações foram realizadas com todos os participantes se colocando a frente da sala para, um por um apresentar parte da pesquisa. Dava para ver a segurança de alguns e a insegurança de outros, o que na maior parte das vezes não significou a não participação no trabalho, mas a dificuldade de se apresentar em público. Alguns começaram a ler os trabalhos e ai foi feita uma interferência nos bastidores conversando com o João Kabá sobre a importância de se explicar o que foi feito e falar a respeito ao invés de uma simples leitura.
F
Grupo de pesquisa sobre a malária
Grupo de pesquisa sobre o tracajá
oi apresentado o trabalho do grupo da borracha, mas eu não estava em sala nesse momento. A seguir vi a apresentação do grupo que trabalhou a questão da malária. Então o Haroldo falou sobre a desorganização do grupo. Também deu para perceber que a metodologia de pesquisa utilizada foi diferente, visto a realidade existencial de cada grupo. Enquanto um foi entrevistar um técnico da FUNASA em Jacareacanga, o outro se preocupou em buscar informações sobre o assunto na memória dos velhos. Depois quando os grupos estavam fazendo os relatórios fiz uma pergunta a eles para saber quem já havia tido malária e quantas vezes. Basicamente todos já haviam tido mais de uma vez e em circunstâncias diversas e isso, falei é informação para justificar a pesquisa.
Após essa apresentação, foi a vez do grupo Datxê (gavião rei). O grupo estava também bastante desorganizado e pouco produziu a respeito da pesquisa. Falaram apenas um pouco que não se encontra tracajá nessa época. Que ele não cresce há três meses (tem um dos integrantes que começou a criar um e está medindo ele a cada mês). Ele disse também que onde tem tracajá é lá para o Rio Teles Pires. Há também o problema da imprecisão do instrumento utilizado, uma fita métrica de costurar, que pode apresentar variações até mesmo por estar dobrada ou esticada quando guardada, pois é de tecido e matéria plástica.
Ao final da manhã foram realizadas conversas a respeito da responsabilidade sobre os trabalhos, pois todos esperam os resultados para o desenvolvimento da temática, que se for bem desenvolvida, ajudará a todos, e caso não seja, o prejuízo será de todos também. Foram cobrados os relatórios e dito que fossem entregues em duas cópias. Uma para os professores e outra para os monitores.
À
Grupo da malária auxiliado pela Professora Joana tarde iniciamos aprofundando a discussão sobre metodologia, ou mais propriamente rediscutindo o que ela representa, sendo, após a fala dos monitores, passada a palavra a cada participante para se expressar sobre o assunto. Esse passo atrás, foi muito interessante, pois o que parecia entendido ainda não estava e deu para ver uns aprendendo com os pensamentos dos outros, ao mesmo tempo em que cada um reafirma os seus próprios pensamentos. Após o intervalo, como os relatórios ainda não haviam sido feitos, a turma foi dividida para o seu desenvolvimento.
À noite tivemos mais uma reunião de avaliação e melhoria das relações inter-pessoais na equipe. Foi também definido a necessidade de se estabelecer um assessor para cada pesquisa. Foram discutidos pontos como: Responsabilidade; Diário do Pesquisador; relação inter-pessoal na equipe tensa; temas e grupos a serem assessorados; continuidade das pesquisas e a necessidade de redimensionar e rever o planejamento operacional.
Falei um pouco da minha compreensão sobre a pesquisa acreditando que, no caso, ela assume três dimensões distintas, a saber: definir temas para inserir no conteúdo programático do curso; exercitar a aprendizagem; e possibilitar o encaminhamento para situações de interesse da comunidade (problemas, sonhos e vontades). Do jeito que está colocado, me parece que está se dando ênfase apenas aos problemas, perdas e coisas ruins por resolver, quando tem tanta coisa boa a ser pesquisada.
Na Segunda-feira, dia 17/03/2008, pela manhã foi conversado bastante pelos monitores sobre organização e sobre higiene, sendo reforçado dizendo, “aqui queremos dar exemplo para a comunidade”. Depois de falar sobre o assunto, o Haroldo que já havia colocado uma lixeira no centro da sala, pediu a todos que colocassem nela o lixo que estava embaixo das cadeiras.
No quadro estava escrito uma poesia na língua Munduruku que era na verdade uma música sobre a dança da cutia, que foi cantada depois que perguntei do que se tratava e pedi para ouvir. Eles não sabiam como dançar ou ficaram envergonhados. À tarde abriu-se espaço novamente para apresentação dos trabalhos de pesquisa Após a apresentação dos trabalhos o grupo de pesquisa sobre a malária contou uma música antiga dos Munduruku.
“ ÔN TO TO MO JEKUAP HO 2X
ÔN TO TO MO JEKUAP 2X
WEKUAP EJU MA MO, OPEREĞ PERĔG
BAIIIII “
A rigor foi feita uma reapresentação dos temas. O grupo que pesquisa a Mudança da Cultura falou sobre as plantas medicinais e sobre a decisão de se aprofundar nesta parte da pesquisa fazendo um recorte do tema. Após um breve intervalo foi apresentada a pesquisa da borracha e na seqüência novamente a malária. Assim todos os grupos fizeram apresentação.
Por fim o grupo da malária fez a apresentação de uma nova música. Quase ninguém sabia, mas escreveram e leram.
Resumindo, foram trabalhados na turma que fui colocado os temas de Mudança da Cultura, Malária, Borracha e Tracajá.
À noite ainda nos reunimos quando coloquei minha possível desistência da continuidade, naquele momento, na equipe por questões particulares. Coloquei também a minha preocupação em se levar um profissional que já havia dado problemas em Sai Cinza, acima de tudo gripado com riscos de agravamento, para uma região de difícil relacionamento e operacional dificultado. Depois perguntei ao João Kabá sobre sua disposição de ir para o Katõ continuando na equipe e ai sim, após sua confirmação, eu decidi permanecer nos trabalhos.
2.1.1 Conclusões sobre os trabalhos na aldeia Sai Cinza
Como consolidação do trabalho em Sai Cinza, podemos sintetizar nos seguintes comentários:
1 – A metodologia de trabalho a ser seguida ainda precisa de ajustes e de maior nivelamento entre os profissionais e alunos;
2 – O operacional precisa ser mais bem cuidado, pois tem tomado tempo dos participantes em diversos graus e assim prejudicado o andamento dos trabalhos. Talvez se precise de mais autonomia e menos atrelamento a estruturas superadas;
3 – o acompanhamento das pesquisas pode ser mais bem estruturado cuidando-se de dar espaço também para a sua construção no momento da apresentação. Mas para isso precisamos de mais tempo;
4 – precisa ficar claro que cada pesquisa embora seja realizada por um determinado grupo, tem a responsabilidade de trazer da melhor forma possível o conteúdo para o aprendizado de todos;
5 – quanto aos temas de pesquisa achei interessante e dentro das realidades, podendo se verificar alguma dificuldade sobre o foco e mesmo a extensão temporária das mesmas. Aqui fica ainda uma observação sobre a divisão dos grupos. Não entendi, embora compreenda, o porquê que o monitor Zenildo está pesquisando sozinho um tema tão importante como Mudança da cultura. Isso traz um tratamento diferenciado e individualista para um processo coletivo de cooperação, além de perdermos a oportunidade de crescimento de vários outros alunos que estariam sendo orientados pelo próprio Zenildo, de capacidade indiscutível. Não é bom para o curso ter tratamentos diferenciados. Se ele não é aluno então é preciso deixar claro que é uma pesquisa acessória, ao invés de incluí-la na mesma categoria das outras.
6 – As relações inter-pessoais dentro da equipe precisam ser bem cuidadas principalmente no tocante a escolha de profissionais a altura do que se está realizando para não prejudicar o dia a dia das atividades com conversas de canto, pouco socializadas, criando grupos de interesse e desconfiança. Deve-se, porém, sem sentimentalismos, excesso de pudor ou paixões desmedidas que beire as raias da discriminação ou mesmo incompreensão, considerar sempre a dificuldade de se conseguir bons profissionais para o trabalho. Principalmente por remuneração tão irrisória e pela disposição de se ir para lugares remotos, insalubres e de periculosidade elevada em vários sentidos. Não deve ser uma decisão de coordenação, mas antes um assunto discutido por todos da equipe que já se posicionam de forma aparentemente permanente. É melhor deixar algum tema para ser desenvolvido depois do que colocar pessoas que não correspondam às expectativas profissionais necessárias (indigenistas, éticos e pedagógicos). É importante que haja uma preparação das pessoas mais novas no indigenismo para a sua boa atuação em campo. Quero deixar claro aqui que estes posicionamentos são pessoais.
7 – A falta de uma “secretaria executiva” e operacional, que toda escola deve ter, sobrecarrega de maneira aviltante os demais profissionais indigenistas e professores. Isso prejudica de forma perigosa a percepção das questões pedagógicas e relativas ao relacionamento humano, tanto entre os profissionais da equipe, quanto entre esses e os alunos e mesmo entre os alunos. É recomendável que nas gestões com a Secretaria de educação do Pará se organize essa parte vital para o bom desenvolvimento do curso.
Na Terça-feira, dia 18/03/2008, ainda em Sai Cinza, continuamos a preparação de material para uso e deslocamento para a aldeia Katõ saindo de Sai Cinza às 14h05min com chegada às 19h30min. Isso representou um atraso de mais meio dia nos trabalhos.
Muitas vezes achamos que uma ou duas horas de conversa pouco adiantam, mas na realidade, algum tempo pode inserir o tema e mais algumas informações que servem para discussão e abordagem nas conversas informais noturnas. É quando há um tempo para melhor pensar sobre tudo que está ou vai acontecer. É também, em diversas situações, o momento que os velhos se aproximam e dão sua opinião sem o constrangimento público ou da luz. É bom dormir pensando no que vai acontecer no dia seguinte. Após a instalação, nos alimentamos e realizamos uma reunião com o Marcelo, chefe de posto da FUNAI, para acertos sobre o trabalho.
2.2 Trabalhos na aldeia Katõ
Na quarta-feira, dia 19/03/2008, demos início, pela manhã, aos trabalhos de acompanhamento com a conceituação sobre organização, respeito, liberdade, responsabilidade e união.
A
Grupo de resgate da cultura da aldeia Katõgora a equipe tinha sido alterada, sendo professores/assessores os indigenistas Carlos salgado e Terezinha, e os monitores João Kabá e Claudete.
Seguiu-se a apresentação de cantos e danças por integrantes da comunidade. Existe um grupo de meninas que se apresentam regularmente na aldeia em um processo de resgate cultural.
Após a manifestação cultural foi apresentado pelo João Kabá o calendário do curso e definido com os alunos os horários das atividades e o tempo que ficariam na aldeia para o seu desenvolvimento. Tivemos a presença de 45 alunos, uma desistência e duas novas pessoas incluídas, sendo um transferido de turma do Sai Cinza, o Geraldo do grupo saúva e uma nova aluna a Gercenilda que entrou no lugar de um desistente, o Jesse. Quase houve mais uma desistência, a Nilza, por motivos de conversas na prefeitura e comunidade de Jacareacanga que disse que o curso não serviria para dar diploma, pois não era oficial e outras coisas do gênero para desestimular a participação no projeto. Também se falou da importância de se fazer o curso na aldeia, pois tem muitos alunos que estão fazendo na cidade e lá não têm apoio nenhum sendo inclusive perigoso. Não tem higiene onde ficam e mesmo que consigam passar pelo corredor de bares e chegar às aulas, é comum que fiquem até mais tarde nos mesmos chegando à casa muitas vezes pela manhã, prejudicando sobremaneira o rendimento. Comentaram ainda que na aldeia tem sempre um parente que pode ajudar e que o pariwat não dá nada e ficam todos passando fome na cidade.
S
urgiu um debate sobre o local correto para o curso. O aluno Dionísio Crixí, baseado em argumentos sobre o difícil deslocamento, colocou a importância de se ter a turma ali presente, ligada a Sai Cinza e quando forem reunidos todos, ocorra em dois lugares diferentes. Um em Sai Cinza alternando com Katõ que reunirá Sai Cinza, Katõ e Rio das Tropas, e outro que reunirá Missão, Munduruku e Teles Pires. Nessa hora fiz uma interferência no sentido de explicar que não só o operacional deve ser levado em conta, mas também as questões relativas à quantidade de professores que teriam que atender dois lugares. Falei também que o assunto seria levado às instâncias decisórias sobre o curso, visto que não tínhamos autonomia para deliberar e decidir sobre o assunto. Aqui me foi informado depois pela Terezinha que existem outras questões sócio-culturais que devem ser consideradas, que acredito, pelo teor, ser muito importante contemplar.
Depois realizamos o reconhecimento de cada grupo de pesquisa com seus nomes, a pesquisa que estão realizando e o representante de cada um, conforme segue:
Grupo
Nome
Tema de Pesquisa
Representante
1
Arikiko
Poluição do Cabitutu
Dionísio Crixi
2
Poat poat
Diminuição dos peixes
Rosinaldo
3
Poxo Kao Kao
Organização social dos clãs
Eduardo Karo
4
Koropsare
Origem da língua
Reginaldo Poxo
5
Kaxi
Campo savana
Gilsom Saw
6
Soat muy’ ũbu
Tinguejada
Nilza
7
Wriyda
Agricultura
Genésio Kabá
Passamos da hora do almoço prevista para 11h00min, mas parecia que ninguém estava se importando. Ficou inclusive definido que a programação se estenderia por mais três dias de atividade além do previsto. A ansiedade e interesse pelo curso, pelo saber novo que chega e pela oportunidade de um possível diploma do ensino médio têm demonstrado o grande interesse dos Munduruku pelo estudo. Isso é positivo, mas precisa ser bem explorado e oportunizado, pois com o tempo longo e o cansaço alguns começam a fraquejar e ai vêm as desistências.
Depois do almoço após a leitura do resumo do texto sobre a pesquisa no ensino médio integrado Munduruku, João Kabá interpretou e explicou a todos.
Após isso, ainda depois do almoço, foi feita a divisão das pessoas pelos seus grupos. Depois foi distribuído material sobre a pesquisa no ensino. Foram novamente separados grupos de pesquisa e após a leitura cada grupo expressou o que havia entendido.
Aqui tivemos um pequeno problema que precisa ser tratado. Pelo excesso de preciosismo e dificuldade de condução de trabalhos pedagógicos, por minha parte, dei importância excessiva aos textos com os quais trabalharia de forma individual/coletiva (cada um com o seu). Deveria ter atentado melhor que foi providencial, embora tenha sido surpreendido na hora de distribuir, não ter textos para cada pessoa, pois assim poderia transformar a atividade de forma mais dinâmica em pequenos grupos. Mas me preocupei com quem tinha deixado de trazer os textos que eu havia contado e separado para que não faltassem. Como já havia tido uma informação sobre que os mesmos já haviam sido distribuídos anteriormente, insisti que era preciso distribuir e que os mesmos não haviam sido entregues conforme os próprios alunos falaram. Esse fato causou certo desconforto entre eu e a monitora Claudete.
Superamos essa indisposição plenamente com a participação da Professora/Indigenista Terezinha que interveio para esclarecer e também com o meu afastamento proposital provisório da sala de aula até o fim da tarde. Ficam aqui alguns aprendizados: todas as questões extra educacionais acabam por interferir, cansar e tirar a sensibilidade das pessoas envolvidas no trabalho educacional, que já é bem estafante por si só; é preciso saber até onde temos o direito de interferir quando estamos construindo um processo protagonista; é importante termos claro quem deve ceder, em casos de atrito, para não “fazermos uma tempestade em um copo d’água”; é importante ter muito claro também a importância de termos e respeitarmos a participação de indigenistas comprometidos como o povo com o qual estamos trabalhando e com a sua autonomia; a carga colocada para um monitor deve ser bem medida tanto quanto a sua capacidade pedagógica quanto emocional. Não devemos perder de vista também que mesmo tendo sido escolhidos monitores, ainda, e principalmente, estão em processo de formação em serviço, o que pede maior atenção e respeito a sua contribuição. È sempre importante estar atento a preparação dos monitores para cada atividade.
À noite realizamos uma primeira reunião de coordenação dos trabalhos com a equipe e mais os sete representantes dos grupos de pesquisa. Foi uma reunião muito boa. Principalmente por que com a metodologia de termos sugerido e trabalharmos junto com representantes de cada grupo, facilitou o encaminhamento de dúvidas e esclarecimentos de ambas as partes, ampliando a compreensão e união do grupo. Abri a reunião colocando alguns pontos a serem considerados e passei a palavra ao João Kabá para a devida interpretação. Foi convidado para a reunião também o professor Joel que também assumiu a posição de monitor e já havia participado à tarde de nossa atividade.
Seguem os resumos das diversas falas:
Eduardo, representante do grupo Poxo Kao Kao. Essa é a primeira etapa do curso que estamos esperando desde 2005. É interessante os monitores. Setembro e Outubro, as datas marcadas está complicado, pois se faltarmos as aulas podem descontar do nosso salário. Dá pra aproveitar janeiro e fevereiro
Marcelo, chefe de posto indígena da FUNAI. A princípio eu achava que ia encontrar os professores brancos na frente e foi uma surpresa encontrar os Munduruku na frente. É importante vocês se conhecerem como era antigamente. Vamos aproveitar a oportunidade e se dedicar
Rosinaldo, grupo Poat poat. É importante como os monitores indígenas mesmo. Com os monitores é bom. Estamos indo devagar, mas como o Jabuti. Ai a Terezinha falou que ele só anda pra frente.
Reginaldo, grupo Koropsare. Tem dificuldade de falar no português ai é importante o monitor. Eles tem responsabilidade deles mesmo tem que sair as idéias. Eles têm que ter a reflexão. Eles mesmo têm que ter as idéias. Os monitores têm o domínio de explicar o que estão falando. Nosso objetivo é chegar lá. Ai o Marcelo falou da importância de ter um intérprete.
Dionísio Crixi, grupo de pesquisa Arikico. Nosso estudo tem muito boré que vai aprender mais. Quando os monitores esclarecem pra nós é importante. Quando pariwat fala português agente fica perdido. O ensino médio Munduruku. Aqui agente estuda e não ta passando fome Que bom que o André e a FUNAI está pensando assim. Poderia ser dividido. No Sai Cinza, Rio das Tropas e Katõ. E lá na Missão junto com Munduruku e Teles Pires. Cada vez mais estou percebendo, gravando e entendendo. Agente tem que procurar saber para os professores passar pros alunos. Tem muitos índios que não abe o que os pariwat estão falando. Então com os índios na frente fica mais fácil de entender.
Gilson, grupo de pesquisa Kaxi. Lá fora é muita dificuldade pra gente estudar. Até por que quando agente sai, ou quando agente tem o pai ou a mãe que tem dificuldade de mandar alguma coisa pra ajudar. Quando agente tem dúvida os monitores ajudam. Quatro a dezenove de julho eu estou na área trabalhando. Por que eu tiro as férias somente no mês de janeiro. Quero conversar com a coordenadora para mudar nossa escala.
Geraldo, grupo de pesquisa Wrida. Só estou ouvindo. Segue o representante do grupo Genésio. É bom ter os monitores pois muita vez tem os textos que complicam (sinônimos). Devagarinho conseguiremos chegar, pois muitas vezes tem várias barreiras pra passar.
Nilza, grupo de pesquisa Soat muy’ ũbu. Eu vou falar a mesma coisa que eles falaram, mas eu vou falar na minha língua, pois eu estou nervosa. É importante ter os monitores. Eu estava quase desistindo porque falaram errado mas já estou com raiva de mim mesmo.
Joel, monitor. As pessoas que não entendem, tem monitor pra tirar as nossas dúvidas, pois se agente não tira as dúvidas pra poder se aperfeiçoar. Cada ano agente tem palavras diferentes. É importante porque chegou ensino médio na aldeia porque na cidade agente não tem nossos parentes ai agente passa necessidade. O pessoal que sai da aldeia ta passando necessidade. Quem não tem dinheiro pra pagar apostila. Pariwat todo tempo ele tem dinheiro agente só tem quando recebe. Ai outro dia agente já não tem. Fazer no Sai Cinza ou aqui no Kato vai ter menos despesa.
Em resumo podemos dizer o seguinte: ainda estão inseguros pelas falações dos pariwat; todos estão felizes com o trabalho com os monitores; há certo problema (questão cultural?) que precisa ser considerado, pois afeta o emocional e também afetará diretamente a estrutura organizacional; Há uma grande preocupação com o calendário e as atividades de trabalho de cada aluno que tem atribuição na educação ou saúde.
N
a quinta-feira, 20/03/2008, pela manhã o professor João Kabá desenvolveu melhor o assunto sobre os vários passos da pesquisa. Depois seguiu-se sobre a metodologia, recursos, descobertas dificuldades e tempo.
À tarde foram feitas as apresentações do andamento das pesquisas. Aqui fiquei pensando como é importante ter clareza de que cada palavra nova que falamos traz um novo conceito e muitas vezes um novo significado que precisa ser trabalhado e esclarecido.
D
urante a manhã, o Capitão da aldeia, Sr. Arnaldo, que estava viajando, fez sua palestra sobre os trabalhos na forma como estão sendo desenvolvidos.
Ainda pela manhã falou-se sobre a metodologia, recurso, descobertas, dificuldades e tempo. A tarde foi dedicada a apresentação das pesquisas de todos os grupos. Apenas pude observar que ainda existem grandes dificuldades em compreender o método que estamos utilizando.
Isso é normal, pois o ensino fundamental do qual são originários, além de romper com a cultura indígena, o fez por métodos convencionais coercitivos e impostos com uma construção do saber de fora para dentro. Por enquanto o que é possível ver é que estão se familiarizando com o que precisa ser feito, mas ainda compreendem pouco o porquê das coisas serem assim.
À noite foi realizada mais uma reunião de avaliação com o direcionamento e participação ativa dos Munduruku. Isso mudou um pouco a ótica, pois esperavam mais uma reunião conduzida, quando na realidade passaram a conduzir. Passei a reunião para ser realizada por eles, tanto no comando quanto nas decisões, falas e jeitos de conduzir as conversas. A reunião foi bem animada, mas pouco escrevi, pois falaram um pouco mais em Munduruku e eu estava desenvolvendo outro trabalho para deixar com o João Kabá as fotografias do curso. A rigor, fiquei sem saber o que falavam . . . Talvez no meu devido lugar, dentro do possível.
Antes de passar a palavra, falei que a responsabilidade era nossa e que estava parecendo que estávamos jogando um peso nas costas deles, mas argumentei que era uma oportunidade deles se manifestarem de forma autônoma para cada vez conduzirem mais o processo. A reunião transcorreu em clima sério, cheio de brincadeiras e de assuntos de encaminhamento e avaliação do dia e . . .
Na Sexta-feira, dia 21/03/2008, a minha participação nos trabalhos se resumiu a uma palestra sobre oportunidade, liberdade e responsabilidade no desenvolvimento das pesquisas e do próprio curso. Escrevi no quadro uma expressão do Renato Russo:
“Quem pensa por si só é livre.
E ser livre é coisa muito séria”
Dei seguimento falando do desenvolvimento e recomendações sobre o diário do pesquisador e sua importância, da participação diferenciada de cada um no curso e sobre os relatórios parciais de pesquisa dos alunos, dos professores e demais colaboradores.
Após minha participação na atividade o João Kabá foi me deixar na beira do rio e me pediu para conseguir mais material sobre educação indígena e prometi fazer o possível para isso acontecer. Me despedi dele agradecendo a oportunidade de trabalharmos juntos, e do chefe de posto agradecendo pelo apoio acertado e me desculpando por alguma coisa. A seguir deu-se o meu deslocamento para Jacareacanga já citado anteriormente.
2.2.1 Conclusões sobre os trabalhos na aldeia Katõ
A questão operacional na aldeia foi encaminhada pelo chefe de posto da FUNAI, professor Marcelo, que mobilizou a comunidade para o atendimento das necessidades. Tudo correu muito bem com pequenos ajustes feitos conforme necessário. A exemplo do uso dos alimentos para famílias da comunidade por pessoas envolvidas no trabalho, normal, mas dispendioso.
O fato do Marcelo ser professor aguçou o seu interesse pela atividade, sendo, guardadas algumas interferências ansiosas e um pouco paternalistas, ao estilo FUNAI, muito boa a sua participação.
Também é importante registrar a sua boa vontade na utilização dos equipamentos de fotografia e informática particulares visto que o computador da FUNAI estava quebrado.
Deve-se trabalhar melhor a sua participação ficando clara a necessidade de se resguardar o espaço do curso para o protagonismo indígena sem a interferência institucional da FUNAI.
Também testamos com o esforço do Marcelo incluir outros itens na dieta diária. Não só recursos alimentares tradicionais de maior sustentabilidade por serem apropriados e produzidos na aldeia. Cabe melhor tratamento para essa questão, pois o que se leva é o espelho do que se vai querer no futuro. Esse procedimento trás dinheiro para capitalizar a comunidade e possibilita um operacional menos estressante com menos gasolina, isopores para transporte, etc.
Assim itens como: carne de caça e pesca (munição, material para pesca); legumes em geral (abóboras e todos os outros itens cultivados ou mesmo de possível cultivo regional); frutas naturais (açaí, bacaba, buriti, entre outras); frutas cultivadas (coco, limão, mamão, cacau); alimentos processados internamente (farinha puba, farinha de tapioca, polvilho para beiju); Carne de criação própria de galinha ao invés de frangos congelados cheios de hormônios, vitaminas e antibióticos. Neste ponto cabe orientação especializada, pois é por onde se desestrutura o sistema de segurança alimentar pois é difícil criar uma vaca ao lado da casa para se ter leite ou mesmo secar até virar pó, é difícil plantar um pé de bolacha de latas de extrato ou um pé de óleo de soja responsável pela aceleração do desmatamento da Amazônia.
A fábrica e o armazém dos Munduruku são a natureza e as roças e isso deve ser permanentemente reafirmado principalmente em trabalhos com educação onde tudo é observado e seguido. É importante sempre avaliarmos essa questão inclusive por nossas posturas. Assim estaremos necessitando de menos dinheiro para a sobrevivência e ai precisaremos de menos garimpo ou garimpos mais cuidados, com uma extração menos impactante sobre a natureza provedora da vida Munduruku. Isso traz, resgata e afirma mais sustentabilidade, autodeterminação e autonomia, que é o sentido de se trabalhar aspectos da educação.
Brasília, 6 de abril de 2008.
Carlos Antônio Bezerra Salgado
Assessor Ensino Médio Integrado Munduruku

PROJETO IBAOREBU DE ENSINO MÉDIO INTEGRADO MUNDURUKU



Etapa de Acompanhamento março de 2008
NÚCLEO DE ACOMPANHAMENTO DA ALDEIA SAI CINZA/ TROPAS
15 a 17 de março
Grupo
Componentes
Projeto
Turma de origem
Monitores
Prof. assessor
ARIKICO – Rio das Tropas
Genivaldo Kabá, Jonatan Kirixi, Amarildo Korap, Edil Akai, José Dino Korap, Adalto Jair Akai
Plantio de mandioca
III
Zenildo, Amâncio
André, Carlos
AWARÉ
Juvenal Akai* , Geraldo Karo, Alzildo Karo, Lucio Akai, André Karo e Elias Karo. (Jardim Kaburuá)
Saúva
II
Zenildo, Amâncio
André, Victor
KEREPO
Francinildo Kirixi, Gilvan Karo, Alcindo Karo, Maurício Yori, Rosinildo Saw, Raimundo Dace, Rosivaldo Karo, Rosildo Saw
Tragédias e Conseqüências dos Invasores na Terra Sai Cinza
II
Claudeth, Francisco e
Jairo Saw
Terezinha, Carlos
DACE XI
Rosivaldo Tawe, Divino Karo, Sebastião Karo, Manoel Poxo, Alcildo Karo
Tracajá
II
Deusivaldo, João Kabá
Victor, Carlos
POY
Nilce Bõrõ , Ezildo Koro, Feliciano Mu’o, Patrício Bõrõ, Valter Saw, Carlos Bõrõ, Aldaléia Bõrõ
Mudança da Cultura
IV
Zenildo, Jairo Saw, Claudeth
Terezinha, André
PUSURU
Valdeci Kirixi, Haroldo Saw, Rosenildo Manhuari, Hélio Bõrõ, Maria Leusa Kabá, Ivanete Mu’ o, Zenóbio Manhuari, Wilson Saw, Alberto Saw
Borracha
IV
Haroldo, Deusivaldo, João
Carlos, Victor
Josias Manhuari, Josino Mu’o, Valdelino Mu’o, Nonato Mu’o, Francelino Kabá, Valdecildo Dace
Saúde-malária
IV
Claudeth, Francisco, João
Joana, Terezinha
POTIBIRIT
(Wida Kop Kop)
Aldinéia Karo, Nercy Saw, Edilson Kirixi, Lucindo Karo, Aline Kabá
Matrinxã
II
Claudeth, Francisco, Zenildo
Thiago, Joana, Terezinha
AREODIT
Marquinhos Saw, Francisco Akai, Silvano Karo, Edmar Poxo, Ernesto Kabá, Jovino Akai
Malária
III
Claudeth, Jairo, Zenildo
Joana, Terezinha
Zenildo Saw
Mudança de hábito
Haroldo, Mizael
André, Victor
MONJOROKO
Deusivaldo Saw, Amâncio Mores, Claudeth Saw, Daniel Saw, Edivaldo Dace, Francisco Ikõ, Ivanilda Karo, Lucinéia Karo, Valdir Paigo, Deusiano Saw
Munduruku Interrupção de sua história
IV
* estava no garimpo
NÚCLEO DE ACOMPANHAMENTO DA ALDEIA WARO APOMPU/TELES PIRES
20 a 22 de março
Grupo
Componentes
Projeto
Turma de origem
Monitores
Prof. Assessor
WIDA KOPKOP
Isael Karo, Deusimar Karo, Walter Saw, Adaisio Kirixi, Leonildo Saw, Marivaldo Akai
Música Tradicional Munduruku
II
Lídio karo
André
IRIBI/ÁGUA
Dorivaldo Manhuari, Denildo Dace, Genildo Saw, Valdelino Waro, Epitácio Parawá
Água na aldeia Samaúma
II
Lamberto Paigo
Thiago, Victor
EREU EREU
(PAPAGAIO)
Genivaldo Kirixi, Iandra Waro, Danilo Kirixi, Cleidiane Mores, Everaldo Yoto
Floresta na área do Teles Pires
IV
Cecílio
Thiago, Carlos
JEREOKAT
Binel Manhuari, Jaquelino Dace, Enivaldo Waro, Raimundo Waro, Josiel Manhuari, Vanda Waro, Orlando Bõrõ
Medicina Tradicional Munduruku
II
Lídio
Victor, Thiago
EIT CAKO
Antonio Karo, Cleudo Saw, Inácio Kabá, Denise Kirixi, Rosangela Poxo
Diarréia
I
Cecílio
Joana, Terezinha
DA’UK
Paulo César Paigo, Sebastião Mu’o, Osimar Dace, José Mauro Saw, Zildo Saw
Saúde Munduruku (Desnutrição)
I
Lamberto Paigo
Carlos, Joana
SEW SEW (Gavião Pequeno)
Deurivano Kirixi, Rosenildo Bõrõ, Sandro Waro, Sidney Kabá, Eliano Waro e Leuzane Waro.
Cultura Munduruku
II
Cecílio
André
NÚCLEO DE ACOMPANHAMENTO DA ALDEIA MISSÃO
24 a 26 de março
Grupo
Componentes
Projeto
Turma de origem
Monitores
Prof. Assessor
CEKU
José Almir Tawé, Fernando Kabá, Alberto Saw, Braz Saw, Martinha Kabá, Rosane Kabá, Suzana oyoy, Rainero Paigo, Deurice Karo
D.S.T.
I
Adonias
Joana
ARIKICO – Missão
João Mu’o, Rosineide Oyoy, Dorvalino, Vivaldo Kirixi, Laercio Saw, Luciano Paigo, Valdinei Karo, Maria, Ismael Cosme
Roça
I
Mariza Kabá
Thiago
IKÕ
Carlos Alberto, Celso Tawé, Odair Akai, Antonio Cosme, Marcelo Akai, Leandro Akai, Guilherme Karo, José Witõ, Wilson Cosme, Gilmar Mu’o, Lucimar Manuhari,
Desnutrição nas aldeias
I
Adonias, Mariza
Carlos, Joana
KEREBEO
Genival Kirixi, Miguel Karo, Aluizio Poxo, Avelino Yoto, Valtílio Saw, Luis Kirixi, João de Deus**
Aldeia Ağoka (saúde)
I
Adonias
Terezinha
PUY UK PIOP
Benevaldo Dace, Anísio Poxo, Valmir Bõrõ, Jaime Mu’o, Josinaldo Oyoy, Guilherme Tawé, Adonildo Kirixi, Eulino Saw
Gripe
I
Mariza
Joana, Terezinha
** ingressou substituindo
NÚCLEO DE ACOMPANHAMENTO DA ALDEIA KATÕ
24 a 27 de março
Grupo
Componentes
Projeto
Turma de origem
Monitores
Prof. Assessor
ARIKICO - Kabitutu
(caçador maribundo)
Dionísio Kirixi, Maciel Karo, Ângelo Parawa, Nivaldo Kabá, Margareth Karo, Lucimar Korap, Humberto Caetano Kabá.
Poluição e Garimpos no Rio Kabitutu
IV
WUYDA (onça)
Genésio C. Kabá, Albelino Karo, Mizael Yori, Geraldo Caetano Kabá, Suzana Waro, Ana Poxo.
Agricultura no Katõ
IV
POXO KAO KAO
Amilton Waro, Bonifacio Kirixi, Paulo Kabáa, Ronildo Saw Munduruku, Emilson Kabá, Almira Kabá, Rosiane Dace, Eduardo Karo, Jairo Saw, Alecildo Karo (sai-cinza).
Organização dos clãs entre os Mundurukus
SOAT TIWAT
III
SOAT MUY BU
Gerson Ikopi, Flávio Waro, Valdenira Akai, Valcinete Akay, Zildo Karo, Gildasio Paygo, Araciano Karo (sai-cinza), Lucivaldo Korap, Nilza C. Kabá
A pesca com Timbó.
III
KOROPSARE
apen wuya on etaybi
(aprendendo a nossa língua)
Osmarinho Kirixi, Reginaldo Poxo Beribu, Reginaldo Paygo, Gecenilda Yori, Geraldo Poxo
Origem da língua Munduruku.
II
KAXI
Aldilo Kabá, João Valdir, Gilson Saw, Gerônimo Kabá e Leandro Dace.
Campo
II
POAT POAT
Manoel Baiano Dace, Aldo Poxo, Valdeci Caetano Kabá, Rosinaldo Saw, Elder Ikopi, Edileuza Poxo
Diminuição dos Peixes
IV

REUNIÃO SOBRE EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA NAS COMUNIDADES MUNDURUKU



I - Data - 24 e 25 de setembro de 2004
II – Participantes: Representante do Núcleo de Educação Escolar Indígena da SEDUC, Prof. Moisés David (professores Rita de Cássia e Alberto), Representantes da Secretaria Municipal de Educação de Jacareacanga ( pedagogas Cíntia, Kátia e o assistente da Prefeitura, Neto), Administrador Regional da FUNAI, Ozimar, Chefes dos Postos Indígenas Kaburuá, Maria dos Anjos Verde, Sai Cinza, Ademir Macedo, Rio das Tropas, Arthur Macedo Leal, Munduruku, Francinaldo Pereira dos Santos; Coordenador do Curso de Formação de Professores Munduruku e representante da Coordenação Geral de Educação da FUNAI, André Ramos; Coordenador da Associação Pusuru, Jairo Saw, Cacique da aldeia Sai Cinza, Vicente Saw, cacique da aldeia Katõ, Arnaldo Kabá, representantes das aldeias Papagaio e Teles Pires, Emiliano Kirixi, José Agnaldo Kabá e João Kirixi; 34 professores munduruku, 2 professores não índios das aldeias Katõ e Tele Pires.
III – Pauta
- Informes sobre programas e ações do Ministério da Educação, Coordenação Geral de Educação da FUNAI, Administração da FUNAI em Itaituba, Núcleo de Educação Escolar Indígena/ SEDUC-PA, Secretaria Municipal de Educação de Jacareacanga
- Avaliação das ações de educação na área (pelos professores munduruku)
- Participação e controle social
- Regularização das Escolas
- Implantação do Ensino Médio, nova turma para Formação de Professores e Ensino Superior.
IV - RESUMO DOS TRABALHOS
A reunião foi iniciada no dia 24 de setembro às 14 horas, após aprovação da proposta de pauta pelos presentes, os representantes das instituições falaram sobre as principais ações e propostas de cada uma. O técnico André Ramos falou sobre os programas existentes na Coordenação Geral de Educação, dos trabalhos em parceria com o MEC, destacando as ações relativas a formação de professores indígenas, discussão sobre o ensino médio e acesso para o ensino superior, e a ação iniciada este ano “jovens e adolescentes indígenas em situação de risco”. O professor Moisés David, falou sobre o trabalho que vem sendo realizado pela SEDUC-PA, e o planejamento existente que visa atender a necessidade de cursos de formação de professores a partir de 2005, sendo que o Governo do Estado através da Portaria nº 203, instituiu a Escola Intinerante de Educação Indígena, e que os Cursos de Formação serão certificados através do Instituto Normal. Quanto a municipalização das Escolas Indígenas, esta foi realizada em quase todo o Estado sendo que das 89 escolas apenas 9 não são municipalizadas; A SEDUC em determinado momento propôs a Secretaria de Educação de Jacareacanga a capacitação do pessoal técnico, mas a proposta não foi adiante, e entre as ações de capacitação previstas consta o treinamento de docentes e funcionários indígenas para o gerenciamento das unidades escolares. Informou que quanto à implantação do ensino médio ainda não há previsão, devido as dificuldades orçamentárias da Secretaria, apesar de esta ser uma atividade de competência da Secretaria de Educação do Estado e não do município. Comunicou que houve mudanças na estrutura administrativa da Secretaria de Educação do Pará, sendo que o Núcleo de Educação Escolar Indígena, está formalmente dentro da Divisão de Educação Inclusiva, que tem como atribuição atender também as outros segmentos minoritários da sociedade. O Administrador da FUNAI em Itaituba, Ozimar, falou das dificuldades que tem enfrentado para acompanhar as necessidades relacionadas a educação escolar na área, sendo que a situação se agravou pois no momento não conta com nenhum técnico no setor, e sem solução a curto prazo devido a carência de servidores na FUNAI. A pedagoga Cíntia, da Secretaria de Educação de Jacareacanga, e Neto, assistente da Prefeitura, informaram que a ausência da secretária foi em decorrência de problemas de saúde, falaram rapidamente das atividades realizadas e das dificuldades que encontram para realização dos trabalhos, que os atividades de acompanhamento há necessidade de parceria, e que a Secretaria realizou capacitação de Agentes de Saúde Indígena, concluíram declarando que estavam à disposição dos professores para responder as questões e os esclarecimentos necessários. Logo após avisaram que tinham que se retirar às 16:30 h para retornar para cidade que fica a 40 minutos de voadeira da aldeia, e que se comprometiam a retornar no outro dia. Após as informações das instituições, e dos chefes das aldeias, foram iniciados os debates com várias colocações dos professores munduruku presentes. Visando objetivar as discussões e encaminhamentos, Misael Kabá propôs que o assunto referente a avaliação fosse discutido em grupos.
Levantamento dos problemas

RELATÓRIO DA REUNIÃO DE AVALIAÇÃO E PLANEJAMENTO PARA A PRIMEIRA ETAPA INTENSIVA DO ENSINO MEDIO INTEGRADO MUNDURUKU.


Local: Sede da FUNAI - Belém
Período: 28 a 30 de maio de 2008
Assunto: Avaliação da Etapa Intermediária e Planejamento da Etapa Intensiva de Julho 2008
Participantes: Judite Gonçalves Albuquerque, Dulce Pompeo de Camargo, Carlos Antonio Salgado, Thiago Cardoso, Dioney Gomes, Terezinha Vieira, Deusivaldo Saw, Zenildo Saw, André Alvarez, Coordenador de Educação Indígena da SEDUC (manhã do 1º dia), Rita de Cássia Almeida (Técnica da CGEEI/SEDUC, durante o 2º dia), Maria Helena Fialho, Coordenadora Geral de Educação da Funai (durante o 3º dia); Vera Lúcia, técnica do Setor de Educação AER FUNAI Belém (durante o 1º dia); André R.F. Ramos.
I - Apresentação
As atividades do Projeto Ibaorebu de Ensino Médio Integrado Munduruku tiveram início com a realização da etapa inicial de preparação para pesquisa que ocorreu em novembro/dezembro de 2007, ocasião em que os alunos definiram e se distribuíram em 32 grupos de pesquisas. Em março de 2008 foi realizada uma etapa intermediária com finalidade de acompanhamento/orientação das pesquisas em 04 núcleos de acompanhamento nas aldeias Sai Cinza, Katõ, Missão Cururu, Apompu, onde alunos, professores e monitores se encontraram.
Conforme estava previsto na agenda do Projeto para 2008 esta reunião de planejamento foi realizada com a finalidade de avaliar o andamento das pesquisas, os encaminhamentos em relação a consolidação do projeto e a organização da 1ª. Etapa Intensiva do “Tempo Escola”. A reunião que poderia ter sido realizada na cidade de Itaituba, oferecendo desta forma condições para a participação de todos os monitores e uma maior participação dos munduruku, foi na cidade de Belém devido a necessidade de aproximar a Secretaria de Educação das discussões do projeto, e a proposta de realizar uma reunião com o Conselho de Educação e a Secretária de Estado. Os principais pontos da pauta definidos no primeiro dia da reunião foram:
Informe e Avaliação da Etapa intermediária de acompanhamento dos grupos de pesquisa
Política Lingüística do Projeto
Organização da 1ª. Etapa Intensiva (professores, datas, organização administrativa e operacional, metodologia, recursos didáticos necessários)
Questões de política institucional. Organização da pauta de reunião com o Conselho e da reunião com a Secretária de Estado. Recursos Orçamentários.
II – Primeiros Informes e Debates
As primeiras questões colocadas após a definição da pauta surgiram com o informe feito por Zenildo e Deusivaldo sobre o Seminário de Educação Escolar Indígena realizado pela SEDUC, paralelo a outros fóruns de discussão sobre a questão indígena organizados pelo Estado no mês de abril. Participaram os dois mais outros representantes munduruku, a exemplo do Amâncio Ikõ, monitor do Projeto Ibaorebu. A conclusão que chegaram é que o Seminário teve problemas operacionais que atrapalharam muito os trabalhos, devido a distância e entre local em que os representantes indígenas ficaram alojados (Parque dos Igarapés) e o local do evento (Hangar). Segundo eles esperavam muito mais das discussões por que a maioria dos assuntos já está sendo discutida há muito tempo, não houve aprofundamento das questões e o tempo para os grupos foi pouco.
“ Na questão do ensino fundamental na verdade o que a gente colocou ali nada era novidade, a gente já discutiu tudo aquilo: A questão do bilingüismo, da valorização do material didático, o estado arcar com o material dos indígenas, a escola ter gestão própria... merenda escolar. Isso prá nós já vem sendo discutido há muito tempo. Muita coisa é pra baixar a poeira... se a gente não correr atrás o estado não faz! Se a gente não cutucar a gente não vai sair do lugar!” ( Zenildo Saw)
“... é preciso colocar em prática essas coisas que todo mundo já sabe, e não colocam. Ficam só repetindo e perdendo tempo!... A gente pensava que se tinha encaminhado as propostas do ano passado, quando chegamos falaram da programação e foi realizado cada assunto em um lugar diferente, isso atrapalhou muito.” (Deusivaldo Saw)
“A gente fez uma explanação de como nós munduruku estamos pensando o ensino médio diferenciado, diferenciado mesmo! E vimos que muitos povos estão tentando... estão querendo implantar dessa forma” (Zenildo)
2.1 Falando dos grupos de pesquisas
Para início dos trabalhos foi distribuído um quadro com a relação contendo Núcleo de Acompanhamento onde foi realizada a etapa intermediária, nomes dos grupos, temas das pesquisas, componentes, turma de origem na Etapa Inicial de dezembro de 2007. Logo após foram feitos informes, por membros da Equipe que participaram (Terezinha, Carlos, André, Joana) e os dois monitores munduruku, sobre a etapa de acompanhamento realizada em março que contou com a concentração dos alunos nos núcleos das aldeias Sai Cinza, Katõ, Waro Apompu e Missão.
Informamos sobre a metodologia aplicada na etapa para a discussão das atividades de pesquisa dos grupos, com a proposta de elaborar um Relatório de andamento da Pesquisa, que teve como pontos de reflexão principais: 1ª. Parte a) metodologia utilizada b) recursos que foram usados c) principais descobertas d) dificuldades; 2ª. Parte – Como continuar a pesquisa a) No que diz respeito a metodologia b) recursos necessários c) calendário/atividades.
De maneira geral todos avaliaram que a etapa de acompanhamento foi muito produtiva, causando surpresa alguns trabalhos que foram encontrados. A maioria dos grupos estão indo bem com as pesquisas e demonstram grande interesse e criatividade, tendo muitas descobertas interessantes. Foi observado que muitas das pesquisas estão referenciadas nos etnoconhecimentos munduruku, algumas procuram se articular em um diálogo com os conhecimentos não-indígenas. Porém, mesmo em temas que aparentemente não era esperada uma abordagem com base nos etnoconhecimentos eles estão presentes, a exemplo da pesquisa da malária:
“o grupo que pesquisa a malária contou onde o mosquito se reproduz dentro da visão munduruku. O mosquito tem um período que vai para cachoeira, se acasala, e se distribui!” (Joana Zelma).
No meio dos informes ocorreu a chegada do Coordenador de Educação Escolar Indígena da SEDUC, André Alvarez e a discussão foi redirecionada para a questão da reunião com o Conselho de Educação e a reunião com a Secretária de Estado da Educação. Alvarez informou que era importante viabilizar a reunião com a Secretária e que os recursos liberados pelo FNDE/MEC para o Projeto de Ensino Médio Integrado Munduruku, ainda não havia sido adotado nenhum procedimento administrativo para utilização do mesmo, e diante das dificuldades burocráticas era melhor optar em se fazer um Convênio entre a Secretaria e a Associação Indígena, podendo desta forma facilitar a aplicação dos recursos. Para isso era necessário que fosse elaborada uma minuta de convênio para ser apresentada na reunião com a Secretária, Iraci Galo. Enquanto o Coordenador realizava contatos telefônicos para marcar a reuniões com o Conselho e com a Secretária, tentamos dar continuidade as discussões anteriores. Pouco tempo depois foi confirmada a reunião com o Conselho para o dia seguinte (29/05) às 11 horas, e reunião com a Secretária ficou de ser confirmado um horário para a sexta feira.
Surgiu então a questão da certificação dos cursos, e sobre a esse assunto Judite lembrou que na reunião realizada na aldeia Praia do Índio em setembro de 2007 ficou definido que a melhor proposta é a criação de uma Escola de Ensino Básico Munduruku “ por que poderá criar cursos de acordo com a necessidade da demanda e o projeto societário dos munduruku” lembrando ainda que “a medida que a escola vá crescendo o ensino fundamental também vai se incorporando a ela” . Este assunto foi escolhido entre os prioritários a serem discutidos com o Conselho.
Dando continuidade aos trabalhos Terezinha destacou como o Projeto está mexendo com a vida dos munduruku, que a pesquisa está envolvendo toda a comunidade e que muitas coisas que os jovens não sabiam agora eles estão buscando aprender com os velhos, citou o exemplo do grupo que pesquisa o matrinxã falando que esse tema tem um lado ligado ao mundo espiritual e que o grupo seguindo uma tendência que prevalece entre os jovens de que o velho Biboy Kabá é que sabe tudo sobre a cultura foram procurá-lo primeiro na aldeia Katõ. Quando chegou lá Biboy disse que aquele não era assunto de domínio dele. Voltaram para o Sai Cinza daí o líder espiritual disse “ agora vocês voltam lá para o Biboy!”. Depois de algumas conversas conseguiram convencer e realizar a pesquisa com o pajé. Outra observação discutida foi o fato de que muitos grupos já estarem com os trabalhos de pesquisas escritos, encontrando-se ao mesmo tempo no passo 4 – do trabalho de campo e no passo 5 - de sistematização/organização dos dados. Daí surgiu um questionamento na fala do Carlos: Será que eles não estão fazendo a pesquisa como se fosse uma tarefa escolar? Falou-se então que todos nós somos originários de um modelo de escola em que se colocam tarefas obrigatórias, mas que esse era um processo que será transformado aos, e o fato de dos grupos escolherem o tema da pesquisa, e discutirem a preparação já coloca uma relação diferente e questões novas no processo de aprendizagem.
2.2 As impressões dos munduruku sobre as pesquisas e o acompanhamento
Para melhor entendimento dos rumos da avaliação da etapa de acompanhamento prefiro reproduzir a seguir a fala do Zenildo Saw e posteriormente do Deusivaldo Saw, onde estão colocadas questões sobre a metodologia, a experiência do acompanhamento, a relação com a comunidade e os conhecimentos tradicionais:
Pelo que eu vejo muitos grupos estão entendendo muito ou mais ou menos. Tem grupos que já etão fazendo além da nossa expectativa. Tem grupos que daquela escrita pode falar 1 hora, 2 horas, principalmente nos grupos que os monitores estão acompanhando. A gente tem que está atrás deles, sempre naquele movimento não ficar à frente senão eles pensam que a gente vai tomar os trabalhos deles. Ali no Sai Cinza estão fazendo uma pesquisa com um nível muito elevado. Tem grupos que entenderam muito bem que avançou mais do que a gente esperava. Tem grupos que é difícil entender essa coisa de pesquisa de imediato. Tem que falar pouco por que pode enrolar a cabeça deles. Falar pouco e deixar eles pensarem.
Outra coisa em relação ao curso tem um impacto muito positivo na comunidade que está envolvida. As comunidades, principalmente as lideranças foram vendo que o curso é diferente.
Meu pai quando eles foram entrevistar ficou estranhando no início. Eles sabem que a partir do momento que está expondo idéias aqui pode servir prá lá, prá lá, prá cá (fazendo gestos de direção diferentes com as mãos). Munduruku está muito fechado ainda. Por que nós mesmos que somos não conhecemos muitas coisas da cultura.
Uma brincadeira lá... o assunto que eles estavam procurando era uma coisa sagrada. Ele ( o pai) perguntou se eles sabiam o que significava o que estava perguntando. Eles estavam pesquisando sobre timbó. Prá nós mexer com plantas medicinais você está mexendo tanto com o bem quanto o mal. Eles a partir dessa pesquisa estão aprendendo onde está a informação certa. Cada informação tem seu setor.
Outra coisa positiva é muito engraçado participar de uma ‘mesa dos saberes’, outra hora é dinâmica mesmo! Você participa de uma mesa com o pajé. Você tá tendo uma grande experiência.
... Por que a gente vê cada um, você tem um privilégio, ele conta um relato que você não conhece.
Respondendo o que os pajés acham disso: Primeiro isso nunca existiu. Tanto o pajé como os participantes estavam meio inibidos. Depois de 2 , 3 reuniões eles foram se abrindo”.
Após essa fala Judite colocou como surgiu a idéia da mesa dos saberes na experiência dos professores que atuam com ensino médio junto a população rural da região de São Felix do Araguaia, no Mato Grosso.
“ A partir do momento que o branco introduziu uma coisa de reunião acabou com a conversa entre velhos e jovens. Antigamente havia os espaços para conversas, relatos”.
Nesse momento surgiu uma proposta de talvez se pensar em um nome para a mesa dos saberes, sugeriu-se que ‘roda dos saberes’ possa refletir melhor essa experiência. Dioney sugeriu que os munduruku pensem um nome na língua.
Foi muito bom, também pra gente aprender e se preparar, pra gente ficar à frente desse Projeto. Eu não esperava esse resultado que foi apresentado nos grupos. A gente ficou feliz. A gente conversou como a gente poderia tirar as dúvidas deles, se estava indo bem ou não a pesquisa. A gente ficou feliz devido as pessoas, os especialistas que são da área, os monitores foram bem produtivos também, por que a gente não tem mais dificuldades de fazer nossa pesquisa, nosso relatório.
Alguns tiveram problemas de comunicação, dificuldade de se encontrar. Muitos grupos reclamaram da falta de apoio. Mas teve um grupo que deu exemplo que não procurou prefeitura, não procurou ninguém. Providenciaram peixe, farinha, canoa e foram pra pesquisa. Teve um grupo que ficou com vergonha de chegar sem nada na casa do cacique de outra aldeia. Se concluiu também que não se pode ficar esperando pelos outros, precisa de iniciativa.
Tem umas questões preocupantes que a gente não pode ficar falando, como o timbó, a medicina tradicional. Teve um grupo que levou o pajé pra sala de aula e ficou sabendo qual a medicina tradicional que pode ser usada. O pajé falou o que pode e o que não pode. Tem plantas que não podem ser faladas, as músicas também, como a música do Uktupopo.(Deusivaldo)
Tem que ter cuidado na pesquisa para ela não entrar em conflito com as coisas que estão sendo usadas, por exemplo, o grupo que está pesquisando o timbó.. por o que eu sei ninguém quer acabar com aquela prática (Zenildo).
Após as falas a Profa. Dulce disse da importância do trabalho que vem sendo feito e ressaltou a preocupação que nenhuma pesquisa poderá ser divulgada sem a autorização dos sábios e das comunidades.
2.3 Pequenas Conclusões sobre a Etapa de Acompanhamento
Entre os principais problemas citados estão:
- A falta de acesso aos textos (bibliografia), dificuldades de deslocamento dos grupos
- Resistência inicial encontrada com os mais velhos,
- Falta de material ( os gravadores não chegaram à tempo, faltou orientação para o uso e o número não foi suficientes). Mas esse fato não impediu os grupos de realizarem e registrarem as pesquisas.
- As dificuldades operacionais para o deslocamento na área e de comunicação.
- Dificuldades em relação ao entendimento sobre o que é metodologia. Neste aspecto foram interessantes as discussões ocorridas nas turmas de acompanhamento, os alunos se empenharam com o auxílio dos monitores em construir uma compreensão do que é metodologia, finalizando com bons resultados.
Outro ponto importante destacado pelos professores, especialmente o Carlos Salgado foi sobre a excelente participação dos monitores, fato que contribuiu bastante para os resultados alcançados, sendo uma participação que causou grande satisfação aos alunos, e contribuiu para solidificar a proposta do projeto de estimular o protagonismo e a autonomia indígena. Ele chamou atenção também sobre o papel da prática indigenista em um trabalho como esse e que o fato do projeto contar com técnicos com essa experiência ajuda bastante para que os problemas sejam resolvidos, as relações entre a Equipe e os munduruku sejam equilibradas e as atividades alcancem os objetivos.
Foi citada como uma dificuldade para os professores não índios, o fato de que muitos alunos não falam e não escrevem em português, preferindo muitas vezes escreverem em munduruku. Com isso é importante fortalecer a participação dos monitores, e também definir qual a política lingüística que será adotada no Projeto. Foram utilizados muitos desenhos nas pesquisas como uma forma também de expressar o conhecimento adquirido/produzido.
“tomar muito cuidado quando os alunos estão falando. Não interromper de imediato. Por que a gente pensa que está ajudando e as vezes interrompe o pensamento, a idéia que aquela pessoa vai tendo pode ser em vão.”(Zenildo)
A maior dificuldade na realização da etapa, sem dúvida, foi a operacional, mais uma vez deixando claro que é necessário ter uma pessoa responsável pela parte de organização (transporte, aquisição de gêneros, cozinha, articulação com postos da Funai e comunidades etc) e uma ou duas pessoas responsáveis pelos trabalhos de secretaria no Projeto, evitando-se desta forma que os técnicos André Ramos e Terezinha Vieira fiquem sobrecarregados e não participem integralmente das atividades de ensino-aprendizagem.
III - Debatendo a política lingüística e o Projeto do Dicionário Terminológico Munduruku.
As questões relacionadas a política lingüística a ser adotada durante o curso já haviam surgidos em alguns momentos anteriores da reunião, em especial quando se comentou sobre algumas situações em que muitos alunos falavam pouco português e demonstram preferência em se expressarem na língua munduruku tanto nas apresentações orais quanto trabalhos escritos, com desenvoltura maior do que nas situações com uso da língua portuguesa. A discussão foi iniciada logo após a apresentação do material didático desenvolvido por Dioney Gomes e suas orientandas para o trabalho de português como segunda língua. O projeto havia sido apresentado para as turmas na etapa inicial de preparação para pesquisa em dezembro de 2007 , sendo que foram elaboradas pelo professor três unidades didáticas. Como o projeto tem como opção técnico-pedagógico a pesquisa como princípio educativo, a Equipe considerou que apenas a primeira unidade produzida deverá ser levada para discussão e estudos durante a etapa, já que conforme previsto pelo Prof. Dioney o material será reproduzido de forma simples para as atividades na etapa intensiva. Desta forma deverá está aberto para alterações e o mais significativo é que o desenvolvimento das próximas unidades sejam elaboradas juntamente com as turmas. Foram apresentadas sugestões de que o material produzido tenha arte munduruku e outras imagens que contribuam para a auto identificação dos alunos.
A primeira questão sobre o domínio do português foi a respeito dos textos escritos em munduruku pelos alunos, os quais os professores não índios não entendem. Neste aspecto os monitores disseram que a presença e o trabalho deles contribui para superar essa dificuldade. Foi acordado pela Equipe que não há obrigatoriedade de tradução dos textos, principalmente tendo em vista que de fato ela não existe, não é possível no sentido literal. A segunda questão suscitou uma polêmica maior. Alguns ressaltaram a importância do domínio da língua portuguesa para os alunos de um curso de ensino médio e a partir desse instante ocorreu uma calorosa e produtiva discussão sobre como lidar com os alunos que não tem fluência do português e muitos que não escrevem também nesta que é uma segunda língua para eles. Foi colocado por André Ramos que a discussão tem de partir do entendimento da situação sociolingüística dos Munduruku que apresenta uma característica de diversidade que não pode ser esquecida. Houve uma divisão nas opiniões acerca da obrigatoriedade do aluno escrever e falar em português. Alguns defendendo a importância deste recurso para o exercício das habilidades profissionais, em especial do técnico de enfermagem, outros colocando que há necessidade de um tratamento com flexibilidade e sem a obrigatoriedade da fluência na segunda língua. Após várias defesas e exemplos de ambos lados que demonstraram a complexidade da situação e a preocupação em manter o caráter diferenciado do Projeto, surgiu um exemplo falado pelo Zenildo
Nós temos os AIS (agentes indígenas de saúde), muitos desses AIS têm somente a 4ª. 5ª. Séries e estão trabalhando muitas vezes melhor do que os técnicos e auxiliares.
Concluídos os debates chegou-se ao consenso após sugestão apresentada pelo Carlos Salgado, considera-se que o aprendizado da língua portuguesa como segunda língua é importante, que esse aspecto deve ser esclarecido para os alunos como um fator que facilita o acesso para algumas exigências colocadas nas relações com a sociedade majoritária, mas que não será cobrada a obrigatoriedade de fluência oral e domínio escrito da língua portuguesa. Deverá ser dada autonomia de escolha.
Depois desta fase foi exposta pelo Dioney a proposta do Dicionário Terminológico Munduruku, que tem como finalidade registrar as novas palavras e expressões que poderão surgir na língua materna com as palavras introduzidas pela habilitações profissionais. Com isso busca-se incentivar o uso da língua materna no contexto de situações colocadas pelas áreas profissionais evitando o uso indiscriminado do português. Toda a equipe achou importante e concordou com a proposta, mas ficou um questionamento sobre o momento adequado de se fazer isso.
Foi definido após sugestão da Dulce e da Judite que todos os módulos devem ser acompanhados com a participação dos monitores para a pesquisa e registro de palavras novas para o Dicionário. Foi colocado pelo Dioney que os monitores serão orientados e que além disso está previsto a elaboração de um projeto para realizar um curso de extensão na UnB cujo objetivo é levar os dez monitores munduruku para capacitá-los neste quesito.
IV - Sobre a Reunião com o Conselho
Conforme havia sido combinado no primeiro dia, na primeira parte da manhã (discutimos os assuntos a serem tratados na reunião com Conselho de Educação do Estado, onde se destacou a necessidade de definir a escola responsável pela certificação com a proposta de criação de uma Escola de Ensino Médio Munduruku. Foram feitos ajustes em uma apresentação em data show sobre o Projeto para ser apresentado na reunião. Etsiveram presentes na reunião a Equipe Básica do Projeto, as professoras Rita de Cássia Almeida e Tânia, da SEDUC, a Prof. Kátia, Assessora do Conselho, o Conselheiro representante das comunidades rurais, Sr. Leônidas, e o Presidente do Conselho, Prof. Roberto Ferraz.
A apresentação em data show foi feita por André Ramos, que expôs como foram iniciadas as discussões do Projeto com as comunidades munduruku e Instituições, os encaminhamentos realizados, e contou com a participação dos representantes da Comissão Munduruku, Zenildo Saw e Deusivaldo Saw que falaram dos objetivos que o povo munduruku definiram para o ensino médio integrado. As Professoras Dulce Pompeo e Judite Albuquerque falaram da proposta político pedagógica do Projeto e a opção do ensino com pesquisa.
O Presidente do Conselho parabenizou a pertinência do Projeto e a necessidade do Estado valorizar e apoiar iniciativas desta qualidade que buscam construir uma educação de fato diferenciada. Defendeu a estadualização das escolas indígenas e juntamente com os dois representantes do Conselho propôs que fosse criada uma Escola de Educação Básica e Profissional Munduruku, autônoma que possa certificar os cursos. A Prof. Rita de Cássia informou sobre a programação que prevê a construção de Unidades Escolares na área Munduruku e citou um projeto de barco biblioteca, mas lembrou que há dificuldades para criação e regularização de escolas.
A Prof. Kátia falou da diligência apresentada pelo Conselho em 28 de novembro de 2007 ao Processo 647-2007, e a necessidade de que seja respondida pois o prazo já havia expirado. Foi colocada a necessidade de apresentação dos projetos dos três cursos separados para facilitar os trâmites já que as exigências legais apresentam algumas diferenças.
Foi destacado pelo Conselheiro, Sr. Leônidas que uma definição recente do Conselho Nacional de Educação, a Resolução n. 02 CEB-CNE de 28 de abril de 2008, estabelece diretrizes para o ensino médio integrado para populações do campo, quilombolas e indígenas sendo favorável a apresentação de propostas diferenciadas.
O Conselho se dispôs a analisar o Projeto com rapidez para autorização de funcionamento dos Cursos, para isso o Processo apesar de decorrido o prazo de resposta não será arquivado , mas se faz necessária a resposta às questões colocadas pela diligência. Um dos aspectos destacados é o atendimento dos itens especificados no Plano de Curso de acordo com a Resolução n. 04/CEB/99
Foi orientado também quanto a criação da Escola de Educação Básica que a princípio basta o ato legal de criação e gradativamente deverão ser tomadas as providências de instalação, tendo em vista também que já estão planejadas pelo Estado a construção de dois prédios escolares nas aldeias. Algumas questões colocadas pela diligência são de ordem técnico administrativa e portanto de atribuição do estado. Os itens que compõem a diligência são:
Ajustes no Plano de Trabalho (orientação com assessoria da Câmara).
Apresentação de Plano de Curso, por habilitação técnica.
Determinar as escolas onde funcionarão os cursos.
Apresentar quadro de pessoal administrativo, técnico e docente, por curso e por escola, bem como a documentação que os habilita.
Apresentar os Termos de Convênio com Instituições, para a realização de estágio supervisionado.
Apresentar os termos de parceria com as Instituições citadas no Plano de Curso.
Cópia do Regimento das Escolas para cada Plano de Curso.
4.1 Reunião com Câmara de Educação Profissional
No dia seguinte (30/05) conforme estava agendado o técnico André R.F. Ramos e Deusivaldo Saw participou de uma segunda Reunião no Conselho de Educação, com a presença da Prof. Kátia, Professoras Selma e Eufrosina, e Prof. Leônidas, conselheiros que compõem a Câmara Técnica de Educação Profissional. Os principais questionamentos e dúvidas que colocamos foram:
a) Quanto ao Processo que encontra-se formalizado será necessário abrir outro com os Planos de Cursos por habilitação ?
Foi esclarecido que o Processo terá prosseguimento (onde consta as três habilitações em um único projeto) e deverão anexados os Planos de Cursos de Magistério Indígena, Técnico de Enfermagem e Técnico em Agroecologia.
b) Como identificar a Unidade Escolar no espelho do Plano de Curso ?
Durante a discussão deste item foi informado que todas as 40 escolas de ensino fundamental existentes na área munduruku são anexas da Escola Haroldo Veloso, na cidade de Jacareacanga, e que o número de alunos indígenas matriculados representa cerca de 70% do censo escolar do município. Os conselheiros colocaram que a melhor solução é a criação da Unidade de Ensino Básico e Profissional Munduruku, com caráter autônomo como já havia sido sugerido na reunião do dia anterior. Segundo a orientação obtida a escola poderá ser criada através de Portaria do Governo do Estado, inclusive considerando o funcionamento temporário em espaço provisório. Deve ser definido um nome de fantasia e o registro no Cadastro Nacional do MEC.
c) Quanto aos Termo de Convênio com as Instituições para realização de estágio.
Poderá ser apresentada uma Declaração da Instituição para ser anexada ao Processo , podendo o convênio ser formalizado no decorrer da implantação das atividades. No caso do Técnico de Enfermagem deve ser apresentado um cronograma de estágio, com a definição das horas a serem cumpridas em cada módulo, pois o curso obriga a realização no decorrer e não no final ( Situação já prevista no projeto apresentado). Foi lembrada a importância de deixar claro a relação do Curso com a Escola de Produção e Trabalho de Itaituba. Ainda sobre estágio é obrigatório observar a Resolução n. 01 do Conselho Nacional de Saúde, que trata da necessidade de apólice de seguros de anos contra terceiros. Normalmente a Instituição conveniada garante a apólice de seguros.
d) Questão das bibliotecas e laboratórios
Quando da instalação de laboratório é necessário buscar atender com dois laboratórios, um laboratório básico para educação profissional e um laboratório multifuncional. Informar que os livros serão adquiridos gradativamente para atender as necessidades dos cursos e que as bibliotecas serão instaladas após a conclusão das obras ou então funcionarão em instalações provisórias nas escolas existentes.
e) Quanto ajustes no Plano de Curso
Foi informado que a carga horária está conferida e atende as exigências da lei. É importante deixar claro qual será a carga horária de cada módulo. A preocupação maior é com o Curso de Técnico de Enfermagem, sendo que o Conselho tem uma parceria com o Conselho Regional de Enfermagem – COREN para os procedimentos visando o reconhecimento dos cursos. Deve ser dado prioridade nos laboratórios e no quadro de profissionais habilitados, observar a distribuição da carga horária e as normas regulamentares que definem as obrigatoriedades. Foi lembrado na oportunidade que o Estado possui uma Escola Técnica de Enfermagem, a Francisco da Silva Nunes.
e) Situação de Pessoal técnico-administrativo e docentes
Enquanto não houver escola de educação básica e profissional criada poderá ser informado os nomes das pessoas que trabalham nas escolas existentes. Mas com a criação da Escola o Governo deverá providenciar de imediato a contratação de quadro técnico-administrativo.
e) Sobre a avaliação com uso de notas.
Conforme explicação dos conselheiros não há obrigatoriedade da expressão da avaliação com uso de notas, disseram que se tratando de um projeto de educação diferenciada onde está explícito um sistema de avaliação processual seria contraditório a obrigação de uso de notas. Desta forma o que é importante é expressar como será realizada a avaliação qualitativa, sendo que a mesma poderá ser representada em percentual ou conceito.
V - Planejamento da Etapa Intensiva
Após as discussões os principais pontos definidos foram:
Na etapa os trabalhos estarão voltados para orientação das pesquisas realizadas pelos grupos, se concentrando nos passos 5 e 6, de sistematização dos dados e informações coletadas e o Relatório final.
Durante a 4ª. Semana o Prof. o Dioney trabalhará com o material de Português como 2ª. Língua (PSL) na parte da manhã e durante a tarde serão sistematizadas informações para elaboração de currículo a partir dos elementos e das questões colocadas pelas pesquisas. As turmas deverão ser organizadas pelos três cursos e com os resultados das pesquisas serão levantados os temas prioritários que irão compor o currículo.
A partir da análise do Projeto do Curso de Técnico Agroflorestal, cuja denominação oficial estava como Técnico Florestal, e que não agradava a Equipe, nem correspondia aos objetivos da proposta, os Carlos Salgado e Thiago Bezerra apresentaram a sugestão do nome para Técnico em Agroecologia, que todos concordaram, por corresponder melhor a proposta do curso apresentado e constar do cadastro nacional de ensino médio.
Na questão operacional para a realização da etapa foi definido que será solicitado da Funai o apoio de dois servidores do órgão, sendo sugerido os nomes do técnico de enfermagem Paulo Sérgio e do Chefe do Posto Rio das Tropas, Artur. Para os trabalhos de secretaria também foram indicados duas pessoas, o membro da diretoria da Associação Pahyhyp, Ivanildo Saw, que é técnico em contabilidade e realizou curso de gestão de projetos do PDPI, e um funcionário da escola da Missão Cururu.
Quanto a gestão dos recursos destinados pelo MEC para implantação do Ensino Médio Integrado Munduruku, foi decidido que será elaborada uma minuta de convênio a ser celebrado entre a SEDUC e a Funai, ou a Associação Pahyhyp. Os trâmites dependem de contatos entre a direção da Funai e a Secretária de Educação do Pará, que até a data de conclusão desse Relatório não havia sido realizada por dificuldades na agenda da Secretária. A segunda opção de realizar o convênio com a Associação que do ponto de vista burocrático é mais simples, dependerá do pronunciamento formal do FNDE de que se tratando de entidade sem fins lucrativos a entidade não precisará realizar trâmites de licitação para aplicar os recursos acima de R$ 8 mil reais.
Outra questão levantada diz respeito a pagamento dos especialistas que compõe a equipe do Projeto. Devido as dificuldades administrativas colocadas pela legislação foi sugerido verificar se há possibilidade de contratar uma empresa de consultoria, como meio de facilitar os trâmites.
Ficou definido como período da Etapa Intensiva 30 de junho a 26 de julho. O Thiago e a Mari não poderão participar pois estarão esperando aguardando o nascimento do primeiro filho no período, mas foram indicados os nomes de Mariana Gama e Ana Luiza que trabalham na área de agroecologia e com comunidades indígenas, e que fazem parte do grupo de pesquisas de Manaus. A Judite também indicou dois nomes de professores que têm experiência em projetos de ensino articulados a pesquisa, Maria Antonia e Herena.
Carlos Salgado chamou atenção sobre a necessidade de orientação e nivelamento das informações para os profissionais que estão chegando para participar do Projeto, em especial sobre a cultura munduruku e as práticas indigenistas.
Para a realização da etapa está previsto a utilização de recursos audiovisuais (filmes, músicas, imagens etc) que estimulem a reflexão e debates com as turmas, bem como o incentivo a prática da leitura. Para isso foi discutida a necessidade de dispor durante a etapa e nas comunidades de bibliografia relacionada aos temas das pesquisas e também literatura que incentive a descoberta do prazer a leitura. Foi sugerido consultar a SEDUC se ainda dispõe da caixa intitulada “Arca do saber”, que apesar de informado que foi encaminhada para as escolas em 2005 não consta que as mesmas tenham recebido.
Os professores da Equipe ficaram responsáveis em selecionar e encaminhar material de leitura apropriado para o curso. Quanto aos Equipamentos foram listados os seguintes: 4 TVs, 4 DVDs, 4 tocas fitas, 1 data show, 1 máquina fotográfica, 1 filmadora. Na reunião a Coordenadora Geral de Educação da Funai, Maria Helena Fialho, disse que a Coordenação poderá liberar recursos para aquisição de equipamentos caso a SEDUC assuma os custos dos demais itens necessários a execução da Etapa. Ficou acordado caso não haja condições ou tempo hábil para as aquisições, a Coordenação do Projeto, com a colaboração da Funai Itaituba buscará reunir os equipamentos mínimos necessários para disponibilizar durante o curso.
Foi colocada na ocasião a necessidade de realizar o registro (fotos, filmes) das atividades realizadas durante o curso, e que é preferível que tenha uma pessoa apenas para se responsabilizar por esse trabalho. Foi sugerido convidar a jornalista da CGE, Eleonora. É necessário também reunir o material já registrado das etapas anteriores e centralizar na Secretaria do Curso.
Quadro com Proposta de professores e períodos
Professor
Período
Turmas
Semanas
Dulce Pompeo
30/06 a 13/07
IV
1ª. e 2ª.
Judite Albuquerque
30/06 a 26/07
III
1ª 2ª. 3ª. e 4ª.
Victor Hugo
14 a 26/07
II
3ª. e 4ª.
Joana Zelma
02 a 19/07
III
1ª. e 2ª.
Josinete Marques
02/07 a 19/07
II
1ª. e 2ª.
Carlos Salgado
14 a 26/07
I
3ª. e 4ª.
Eneida Santos
30/06 a 26/07
IV
1ª 2ª.3ª. 4ª.
Dioney Gomes
19/06 a 26/07
4ª.
André Ramos
30/06 a 26/07
I
1a. 2ª. 3ª. e 4ª.
Terezinha Silva
30/06 a 26/07
II
3ª. e 4ª.
Mariana Gama
01 a 15/07
1ª. e 2ª.
Ana Luiza
15 a 26/07
IV
3ª. e 4a
Maria Antonia
II
1ª. e 2ª.
Herena
I
1ª. e 2ª.
Turmas
Semanas
I
André
1ª 2ª. 3ª. e 4ª.
Carlos Salgado
3ª e 4ª.
Herena
1ª. e 2ª.
II
Terezinha Silva
1ª. 2ª.3ª. e 4ª.
Victor Hugo
3ª. e 4ª.
Josinete Marques
1ª. e 2ª.
Janilce Lima/ Mariana (?)
1ª e 2ª (?)
III
Judite Albuquerque
1a. 2ª. 3ª. e 4ª.
Joana Zelma
1ª. e 2ª.
Maria Antonia
3ª. e 4ª.
IV
Dulce Pompeo
1ª. e 2ª.
Eneida Santos
1ª. 2ª. 3ª. e 4ª.
Ana Luiza / Mariana (?)
3ª. e 4ª.
Na discussão da Agenda do Projeto Ibaorebu para o segundo semestre foi discutida quanto a presença das educadoras Judite e Dulce na etapa de acompanhamento e a Reunião de Avaliação e Planejamento. Ficou definido que elas chegarão a Itaituba no dia 02 de outubro e farão acompanhamento da turma de pesquisa do Baixo Tapajós, na aldeia Praia do Índio. A etapa de acompanhamento permanece para o período inicialmente previsto 2ª. quinzena de setembro, e a Reunião deverá ocorrer logo após com a chegada dos monitores e professores à Itaituba (04 a 09/10). A Enfermeira Joana Zelma terá disponível o período de 20/09 a 05/10.
VI – Conclusão e Encaminhamentos Finais
A reunião apesar das dificuldades operacionais para a realização, o clima inicial de tensão e dispersão devido as questões que permaneciam pendentes com o Conselho de Educação do Estado e a Secretaria de Educação, tendo uma agenda de reunião com as Instituições no mesmo período, foi bastante produtiva. Um dos fatos mais relevantes foi a reunião com o Conselho de Educação onde ficou claro que não há dificuldades de parte do Presidente e membros da Câmara de Educação Profissional em autorizar o funcionamento do Curso, pelo contrário, defenderam a realização de projetos dessa natureza incentivando a continuidade de nossos trabalhos, reconhecendo a coerência e importância da proposta. Ficaram no entanto interrogações quanto as questões que são fundamentais para a implantação e consolidação do Projeto Ibaorebu de Ensino Médio Integrado Munduruku. A primeira sem dúvida como será resolvida a disponibilização e aplicação dos recursos liberados pelo FNDE/MEC destinados ao Projeto que se encontram sob responsabilidade do estado? A segunda é como não atrasar a agenda de um curso que já iniciou se até o momento não foram realizados procedimentos administrativos que dêem condições para aplicação dos recursos? As opções que são colocadas são: a) Realizar a etapa com os recursos do Projeto apresentado pela Associação Pahyhyp (que são insuficientes representando apenas 20% do orçamento) e recursos que possam a vir ser liberados pela CGE/Funai. Com isso o orçamento previsto no Plano de Implantação encaminhado a SEDUC teria que ser reduzido a quase metade comprometendo algumas atividades e custeios, a exemplo de pagamento de honorários horas/aula. b) Caso a SEDUC se comprometa a aplicar recursos orçamentários que dispõe fora do orçamento liberado para o Projeto, custeando passagens, combustível para transporte fluvial dos alunos e pagamento de horas/aula; pode-se buscar a complementação dos recursos com as fontes Associação e Funai.
Com essa situação além do trabalho técnico que necessita ser realizado para atendimento das demandas da diligência do Conselho, que é bastante plausível, fica demonstrado que é essencial que a agenda política interinstitucional ainda não formalizada até a presente data, seja concretizada com bons resultados, senão qualquer possibilidade de construção de uma educação de fato diferenciada, que corresponda aos interesses colocados pelas comunidades munduruku, a exemplo do Projeto Ibaorebu, poderá ficar comprometida
Brasília, 16 de junho de 2008.
André Raimundo Ferreira Ramos